Johnny Virtus
Fragmentos
[Verso 1]
Numa visita há pormenores cheios de vastidão
Apenas o movimento já diz tanto ao tempo em vão
Passagem é uma palavra sem promessas
Dura quantas horas pedem
Dores que não têm pressas
Mistura de emoções, não há explicações
A razão de cada um é composta por frações
Num flash, se a multidão nutre a solidão
Background não é acaso, é apenas condição
À vista um deprimente sem vergonha da dor
Sobrevivente continua nos restos de um contentor
Vida que sabe a lixo
Ou lixo que sabe a vida
Como se tivеsse a gozar quem inventou a saída
Paisagеm neutra
Cinzenta alguns instantes
Viagem inconsciente da reflexão de tantos habitantes
Viver para trás, cena paralela
Idosa que estaciona o corpo à frente da janela
Num repouso solitário
Porque cada [TAC?] é mais um gole
Viúva que é só amante do pôr do sol
Velhice perdida num lago de pensamentos inaptos
Amores arrumados com fotos num guarda-fatos

[Refrão]
Fragmentos, pedaços num rebento pontual
Movimentos atentos ao tempo condicional
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem é inocente vê bocados seus na mesma situação

Fragmentos, pedaços num rebento pontual
Movimentos atentos ao tempo condicional
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem é inocente vê bocados seus na mesma situação

[Verso 2]
Uma calçada dorida pelo esforço de cada dia
Pensa o homem que vá numa noite fria varre
Qualquer maneira suma onde é sempre sujo
E a esperança não serve de muito à noite se não há luz
Visão torna-se crua quando a sociedade é nua
Um neto segura na avó
Que já pouco se habitua
Num momento em que tudo tá fora de alcance
Como um colo clandestino de uma criança sem qualquer chance
A família dos 20 pães já não sabe onde morar
Como uma porta suja rendida à raiva do azar
Cujo pai em jovem perdeu a alegria
O homem do costume, bizarro, preso à ambição da lotaria
Num rosto apagado
Também se vê o avô duro, deambula com um jornal
Pouco interessado no futuro
Desgraça de um passado não ultrapassado
Então o velho nos copos pagos
Com trocos da frustração
Os dados do destino que calham no copo cheio
No café da zona onde a noite passa a ser um seio
Um meio onde bloqueios são indícios
Duma vida morta num balcão onde só se trocam vícios
Cansaço, pedaço que sobra da vontade
Num resumo e sequências ditadas por uma verdade
Um segundo, fragmento, realidade, conclusão
Muitas histórias numa história escrita à mão

[Refrão]
Fragmentos, pedaços num rebento pontual
Movimentos atentos ao tempo condicional
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem é inocente vê bocados seus na mesma situação

Fragmentos, pedaços num rebento pontual
Movimentos atentos ao tempo condicional
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem é inocente vê bocados seus na mesma situação

[Verso 3]
E quem só diz "acontece"
E quem não faz um regresso ao tempo
Não tem bocados e não foi ninguém
E quem só agora aparece
Não é porque apetece
Porque segundos puseram a alma na dor de alguém
Um rapaz que ajuda além do seu umbigo
E pediu a adolescência com a t-shirt da Abrigo
Numa praça em busca de contributos com um parceiro
A testar quanto pesa a piedade num mealheiro
Num outro lado desvanece a força
Orgulho, miúda, não ouve bem com ouvidos cheios de barulho
Gemidos pervertidos, na face dela eu ouço
Moça que recupera a infância agarrada a um baloiço
Afastada dos desenhos de um abuso vasto
Contornados a vermelho, cor favorita do padrasto
À parte de paranoias e tiram-lhe a estima
Por aprender palavras que a escola não ensina
Homem amarrado na angústia
Sete nós na garganta
Num passeio à beira rio a ver se a força se levanta
Enquanto canta um fado, cobre a lucidez de pobre
Com um irmão atrás das grades que consegue ser mais nobre
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem não sente, vê bocados seus na mesma situação
E quem não sente, vê
E quem não sente, vê
Por segundos um regresso seu à mesma situação

[Refrão]
Fragmentos, pedaços num rebento pontual
Movimentos atentos ao tempo condicional
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem é inocente vê bocados seus na mesma situação

Fragmentos, pedaços num rebento pontual
Movimentos atentos ao tempo condicional
Fragmentos podem ser a conclusão
E quem é inocente vê bocados seus na mesma situação