[Verso 1]
E assim eu saía da beira deles com a mão no bolso
Saía do sítio onde eu ia sempre p'ra nem tar lá dentro
Eu não conseguia sair à noite, era muita gente
Bastava chegarem algumas pessoas
Apenas e só p'ra eu ficar diferente
Sozinho eu não vejo nenhuma das coisas que agora descrevo
Tal como a presença dessas energias que nem são minhas
E assim tar no escuro não me intimida até me alivia
Se o problema eram as sombras dos outros, ali não as via
Se eu falasse, toda a gente diria que eu 'tou doente
Ainda antes de eu ter acabado
E como duvido que isso me ajudasse, escrevo
Para quando alguém me julgar
Ser com a mínima noção daquilo que eu penso
Talvez até possa levar
Os outros que são como eu a quebrar o silêncio
Eles dizem que mais de metade da população
Tem estes pensamentos
Como se fosse uma anormalidade
A circunstância que acontece mais vezes
É só uma crise de ansiedade
Vejo todas as coisas num ponto extremo
Nenhuma chega a ser verdade
Sou apenas eu enganado induzindo-me em erro
Parece mais grave, sou eu que exagero
O peito não contrai, sou eu que o aperto
Eram coisas a mais a não bater certo
Dias iguais a cismar com tudo
Sozinho eu controlo, só 'tou comigo
Só passa dum modo, é quando eu respiro
À medida que volto p'la beira rio
E forço os meus olhos a não ver isto
O frio congela-me a psique
Não penso que quero ficar tranquilo, mas fico
Falo sozinho e vejo o vapor com um formato esquisito
Engulo-o para os outros não se cruzarem
Com parte das nuvens daquilo que eu sinto
Mas já não aguento, já não consigo
'Tou dividido entre dois ou mais
Mas em nenhum deles serei eu mesmo
Tenho recebido alguns sinais, ou ando a procurá-los em exagero
Os meses parecem-me um dia infinito
Conheço pessoas que não conheço
Se não fores importante que chegue
Passam uns tempos e já não me lembro
Tenho a cabeça ocupada com tanta descarga de coisas
Em forma de sombra de tantas pessoas
Que apenas distingo na forma de onda
Já nem tenho escolha
Talvez eu te tenha evitado com muita energia!
Mas se for p'ra lutar eu dou toda
Por isso resta-me sempre a que tinha
Eu só queria andar sem ter em conta
A má vibração que eu distinguia
Em todo o lugar que aqui se encontra
E com tudo o resto que isso alonga
E com tudo mais do que eu sentia
Porque a solução não era ir contra
Essa consequência eu conhecia
Tinha de estar na outra ponta
Seguir o que intuição dizia
A energia viaja do ponto mais forte p'ro ponto mais fraco
Eu só 'tou isolado, descarregá-la é humano
'Tou ligado à terra a olhar para o céu com mais intensidade
A tentar alinhar-me, ou a tentar enganar-me
Eu sinto que me falta fazer uma coisa importante
Ou é só uma desculpa credível para achar
Que ainda tenho um propósito grande
Pra suportar estas cargas em cima
Sem saber se um dia isto pode ir cessando
Assumindo que as feridas que me fazem os dias
Ao longo do tempo só vão piorando
Mas posso ver as coisas doutro modo
Manter o foco só no que eu controlo
Sem reparar em tudo, senão não olho
Sem me pôr no teu lugar, senão não sobro
Vou proteger-te a ti, que mais não posso
Não me fizeste cair, eu ainda volto
E vou sair daqui contigo ao colo
Só paro quando chegar ao outro ponto
[Outro]
Inspira, expira
Inspira, expira
Inspira, expira
Inspira, expira
Inspira, expira
Inspira, expira