Fernanda Maia
Pierre e Natasha
[PIERRE]
Natasha estava
Bem no meio lá na sala
No olhar, somente dor
Quando eu entrei pela porta
Disfarçou, eu cheguei mais perto
Pensei que me daria a mão
Ela então parou
Já sem fôlego
Seu rosto estava lívido
Era uma pose igual
Aos velhos tempos de menina
Quando corria até o meio da sala pra cantar
Mas seus olhos não eram os mesmos

[NATASHA]
Pyotr Kirillovich

[PIERRE]
Pierre

[NATASHA]
Sei que é amigo de Andrey
E Andrey falou
Que eu pedisse ajuda pra você
[PIERRE]
E brotaram as lágrimas
E se arrependeu
Pois tinha sido rígido
Tentou censurá-la
Mas viu que não podia julgar
Que não cabia a ele condenar

[NATASHA]
Andrey voltou
Diga que eu...
Diga que me perdoe

[PIERRE]
Eu vou pedir que ele a perdoe
Mas me deu suas cartas

[NATASHA]
Eu já sei que está acabado
Eu sei que é esse o fim
Mas eu sinto vergonha
Pelo mal já feito
Diga que eu imploro o seu perdão
Perdão
Perdão pela dúvida
[PIERRE]
Eu vou dizer tudo isso a ele
Mas eu queria entender
Foi amor por um homem tão mau?

[NATASHA]
Não fale assim...
Mas eu não sei
Eu não sei de nada

[PIERRE]
Ela então chorou
E Pierre foi invadido
Por um grande amor
Que inundou seu coração

Sentiu as lágrimas nascendo
Por detrás dos óculos
Se virou
Tentou esconder

Não falemos mais dessa dor
Não falemos mais, meu bem

Eu lhe peço, por último
Recorra sempre a mim
Se precisar de alguém que seja
O amigo que te escuta
Depois, quando quiser falar
Pense em mim
Pierre é confuso

[NATASHA]
Não fale assim pra mim
Eu não mereço

[PIERRE]
Não, não, não!
Pense o melhor pro futuro

[NATASHA]
Futuro?
Está acabado pra mim

[PIERRE]
Acabado?

(falado)
— Se eu não fosse quem eu sou, se eu fosse mais brilhante, mais belo, o melhor homem da Terra e se eu fosse livre, eu cairia de joelhos nesse minuto na sua frente e eu lhe pediria a sua mão e seu amor

[NATASHA]
Eu vi que pela primeira vez
Eu chorei de gratidão
E outras lágrimas de amor

E olhando pra Pierre
Oh, Pierre

Eu saio sorrindo

[PIERRE]
Segurando minhas lágrimas
Minha voz embarga
Jogo o casaco sobre os ombros
As mangas... onde estão?

Lá fora os meus pulmões
Enchem-se de ar...
É bom!

E mesmo estando muito frio
Eu me ponho a caminhar