Se eu canto é porque o canto é meu fogo minha fuga
Pois tem vezes que dói tanto que só o canto o pranto enxuga
Quando canto, me agiganto, planto rosa e tulipa...
Entretanto se não canto, o encanto se dissipa
O meu canto é acalanto, é meu santo lenitivo
E se escrevo é porque devo, não preciso de um motivo
Se amanhã chegar meu dia, meu amigo eu te garanto
Como Paco de Lucía, morrerei na melodia, pra viver em outro canto
Como uma adaga a rima é a faca
Que as vezes afaga e em outras ataca
Primeiro convida depois desacata
As vezes da vida em outras te mata
Aumenta o volume
Pois meu verso une
Tonico e Tinoco com Jorge Cafrune
Um pouco de coco toada e repente
Falo o que meu povo sente
Como parte do costume
Minha vida se resume
Em cantar pra minha gente
Canto pra quem já não canta
Canto para os esquecidos
Pela voz dos oprimidos
Embargadas na garganta
Canto pra trazer auxilio
O meu canto é como a lua
É para todos na rua
Que admiram o seu brilho
Canto pra que a tristeza
Pelo menos diminua
Com amor em cada linha
Faço da sua dor a minha
E da minha dor a sua
No punhal de uma guitarra
Sob a influencia antiga
Espero que eu consiga
Amenizar sua barra
O que o poeta narra
O meu coração me obriga
A transformar em cantiga
Como Violeta Parra
Canto até dar fadiga
Admiro a formiga
Mas prefiro a cigarra