Entrevista a Skinny pelo Genius Portugal
Legenda: Pergunta | Resposta
1. Qual é o teu primeiro contacto com a cultura hip hop e quando surge vontade de rimar?O meu primeiro contacto com a cultura hip-hop e a vontade de rimar surgiram em simultâneo, por volta de 2002/2003. Eu tinha um vizinho que vendia DVD's pirateados, e como eu era um cliente assíduo comprava tudo o que aparecia. Lembro-me de ter comprado o filme 8 Mile sem saber ao certo o que estava a comprar, nеsse dia pus o filme a rolar no leitor para
assistir com a minha mãе (como mandava a tradição). O filme despertou um entusiasmo em mim, que dura até hoje, lembro-me que no fim do filme disse à minha mãe "É isto que eu
quero fazer" com 11 anos ela não me deve ter levado muito a sério. (Risos)2. Dentro das vertentes do hip hop, estás também envolvido no breakdance há algum tempo. Chegaste a participar em competições ou ter algum grupo de break?Fiz breakdance durante bastantes anos, também dei aulas a miúdos durante os meus últimos anos no break, inclusive pus uns quantos manos do meu bairro a dançar comigo, mesmo aqueles que tinham pé de chumbo! (Risos) Mais tarde com alguns desses amigos tive o meu primeiro grupo "Urban Six". Quanto a competições nunca as tive a nível profissional, a minha cena era mais batalhas de rua, dessas tenho algumas no currículo sem dúvida.3. Recentemente, o breakdance foi validado como modalidade para os Jogos Olímpicos 2024. O que achas disso e se acompanhas o movimento do breakdance cá em Portugal?Acho que já deveria ter sido validado há mais tempo para a categoria. Sinceramente já há bastante tempo que não acompanho o movimento cá em Portugal, mas sei que temos bons b-boys e b-girls por cá. Os meus parabéns para quem continua a elevar a fasquia por cá, é preciso muito foco e força de vontade sem dúvida..4. Já começaste a rimar há algum tempo, inicialmente como Demónio do Submundo, certo? A transição para Skinny também marca uma diferença na sonoridade ou temas?Inicialmente comecei a rimar como Skinny, mais tarde nasceu o meu alter-ego Demónio do Submundo. Este é um alter-ego que me acompanha sempre, o que significa que a qualquer momento ele pode ressurgir ao público. O Mutante é um trabalho que surge da junção do Skinny com o meu alter-ego. “Eu sou Mutante, metade homem, metade fera”.5. Sendo de Viana, sentes que o foco está muito centralizado em Lisboa?Sem dúvida, há quem diga que isso não é verdade, porque hoje em dia com a Internet podemos chegar a qualquer lugar (verdade). Mas nada como estar no terreno para fazer os
contactos certos.6. No entanto, manténs o foco nas tuas origens, o que é algo de louvar. Sentes que faltam iniciativas ou entreajuda no movimento cá no Norte?Sinto que falta entre ajuda em muitas zonas, não só no Norte, a cada passo vejo círculos de Artistas fechados somente na cena deles. Mas nem sempre isso é negativo, até pode ser o
empurrão certo! O facto de me fecharem muitas portas quando eu era mais novo, fez com que me tornasse autodidata, desde escrever, compor, misturar, masterizar, fazer estrada, guiões
de clips, gravar, editar vídeos, marketing etc etc... Isso fez de mim um artista mais forte em todos os aspetos sem dúvida. Tenho muito orgulho na minha zona! Darque sempre foi vista
como a terra dos rufias onde nada de bom acontece, então quando alguém da zona tem sucesso em algo tu vais perceber o orgulho nas suas palavras! (Risos) "Isto é Made in Darque
boy What's up?!"7. Na faixa "Classick" dizes: "Estou a abrir as portas da city, Boy feel it, Motivo rappers da minha zona a fazer algo sem limite".
Acredito que sejas um grande exemplo para os artistas de Viana. Como reages a isso? Há cada vez mais rap a surgir?Quando eu comecei a rimar cá na zona só se fazia rap com beats de boom bap, eu sempre procurei ser diferente e criar o meu caminho e não seguir os passos de quem já cá estava, essa diferença inicialmente não foi bem aceite, mas eu sempre gostei de rimar contra a maré, eu gosto de música, rap para mim não tem de ser imutável. Defendo que um artista deve fazer
aquilo que gosta e nunca limitar a sua arte por causa de opiniões externas. Então essa dica tem duplo sentido porque por um lado eu procuro sempre inovar a minha arte e por outro o feedback que recebo de quem me apoia é que ao fazê-lo estou também a motivá-los a sair das suas caixas. Hoje em dia estão a surgir muitos novos artistas em Viana do Castelo, saber que contribuo de alguma forma na vida das pessoas é o melhor troféu que posso receber.8. Em 2020 lançaste o EP "Será Que Existo?"? Certamente não estavas à espera deste ano atípico, tinhas algo preparado para apresentações ao vivo?Sim lancei o EP Será que existo(6)?. Esperava puder apresentar o EP em vários sítios, inclusive em outras cidades, infelizmente não foi possível devido ao que já sabemos, mas na vida estamos constantemente a aprender, foi o primeiro projeto que fiz com ajuda de outros produtores, músicos, etc. A experiência foi totalmente diferente daquilo que já tinha feito até à data porque sempre fui muito de fazer música sozinho. Então serviu para trocar ideias, ganhar novos conhecimentos e conhecer outras pessoas ligadas à musica. O mais importante de um projeto não é a meta, é o caminho, foi um ano incrível sem dúvida.9. O projeto tem a produção executiva do Fabrice, e está um fantástico trabalho (parabéns a todos envolvidos), Já trabalhas há algum tempo com o Fabrice? Como se deu essa interação?Já conheço o Fabrice há alguns anos, inclusive ele fez a mistura e masterização do projeto Mutante. Não foi a primeira vez que fizemos algo juntos. Ele já andava a dizer há muito tempo para ir ter com ele a Lisboa, para fazer x ou y mas eu
estava num caminho diferente da minha vida então nunca tinha tempo e vontade para o fazer.
Esta interação específica surgiu num telefonema que recebi dele a convidar-me para ir até Lisboa, porque havia uma pessoa com interesse em "investir" na minha música. Mas mais uma vez eu recusei. Na altura estava na Holanda e a bulir no Projeto "Diamante", então a minha ideia era outra.
Entretanto a vida pregou-me uma rasteira e voltei para Portugal antes do previsto e comecei a ponderar ir a Lisboa, o que acabou por acontecer. Quando lá cheguei, fui a concertos, corri estúdios, fiz contactos e isso deu-me um boost de energia para fazer músicas novas dai nasceu a ideia da criação do EP com o Fabrice.10. O Rosee também deu o seu input a nível de produção. Sentes que resultou bem? Pessoalmente senti que os elementos se uniram muito bem a nível geral, e ficou um resultado impecável...Acho até, nesse sentido, que foi uma afirmação na música de Viana!Sim, o Rosee foi uma peça fundamental na criação do EP, tal como todas as pessoas que contribuíram para a sua produção. Sinto-me grato por ter trabalhado com as pessoas que
trabalhei. Este EP permitiu-me alcançar um tipo de público que não conhecia o meu trabalho, o que para mim foi uma vitória sem dúvida, é mais um ciclo fechado.11. O EP nota-se que segue uma linhagem desde as transições das faixas ao conceito do disco... e, além disso, exploras temáticas e sonoridades/registos diferentes. Essa era a principal ideia? e surgiu de forma natural?Sim, existe toda uma temática por trás do projeto.
A ideia principal era fazer algo diferente daquilo que já tinha feito contudo nunca esquecendo as minhas raízes. No processo naturalmente foram surgindo ideias novas e postas em prática
para ir de encontro ao que pretendíamos. Algumas faixas ficaram na gaveta.12. Parece ser algo mais pessoal e de auto-descoberta, e tal como o título remete, mais introspetivo? Era algo que também sentiste necessário incluir na tua discografia, nesta fase? Ou se foi um processo orgânico na tua criação?Sim, é algo mais introspetivo. Não previ fazer algo do género, contudo a nível pessoal estava a passar uma fase de grande transformação, então senti necessidade de transpor esse
processo para a minha arte.13. Aquele (6) tem algum significado mais pessoal? Lembro-me de te ver falar dessa dica no Insta....Ou é algo que preferes não revelar?Existem outros easter eggs por descobrir, por isso posso finalmente revelar alguns. (Risos)
O 6 é uma nota de rodapé para um trocadilho com a palavra "existo" e a faixa 6 "És isto?".
Então o nome do EP não é uma pergunta mas sim duas:
Será que existo? Ou será que és isto?
Contudo não foi partindo desta situação que o 6 se tornou um número presente no EP. Nessa fase andava a ler artigos sobre energias, salto quântico, etc…Então quando soube que a minha numerologia pessoal é o 6, o chackra do "3°olho", o 6 passou a fazer todo o sentido no EP de 6 faixas.14. Qual foi o feedback que tens recebido do projeto, passado um ano?É positivo, obrigado a todos pelo apoio.15. Colaboraste o ano passado com o Ferry. Tens cozinhado novas colaborações também? Quais os planos agora para 2021?Tenho! Mas isso será algo a ser revelado na altura certa, o que posso dizer é que o meu próximo projeto se chama "wolF" (O mutante está se volta, auuu).
Partilhado em 25 de Novembro de 2020- Canal de YouTube do artista
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