Entrevista a Maior Major pelo Genius PortugalLegenda -> Pergunta | Resposta1. Apresenta-te e representa a tua zona.O meu nome é Maior Major, também conhecido como Jorge Marques na pintura e no desenho e sou de Marco de Canaveses.
Comecei a fazer música em 2019, até então passou de uma vertente secundária para a principal na minha prática artística, juntamente com o vídeo. Neste momento estou no meu último ano em Artes Plásticas nas Belas Artes do Porto, onde estou a trabalhar no projeto "Fuso Horário Luso" de música e de vídeo.2. Para dar a conhecer um pouco mais sobre ti, o que te levou a escrever as primeiras rimas, e o que ouvias em termos musicais?Comecei a ouvir rap com 14 anos, no início ouvia coisas mais mainstream dos Estados Unidos, Eminem principalmente. Com o passar dos anos ganhei mais gosto pelo Rap de Portugal, durante toda a minha adolescência fui ouvindo Dealema, Virtus, STK, etc. Foram esses que me influenciaram indiretamente a escrever as primeiras rimas e consequentemente a começar a gravar sons. Sentia um grande prazer em cantar as músicas deles então era inevitável um dia vir a fazer as minhas.3. A primeira vez que me deparei com o teu registo foi no single "Pleno", é a tua primeira faixa, certo? O que te levou a criá-la?A "Pleno" foi um acumular de rimas que tinha escritas, a dada altura era suposto fazer parte de uma mixtape, mas a coisa foi evoluindo e decidi trabalhar antes num EP ou álbum. O instrumental do Sam puxou-me para fazer alguma coisa e assim que tive o som pronto foi só marcar com o Mundo Segundo, foi a minha primeira experiência em estúdio.4. Marco de Canaveses é a tua zona, como vês atualmente o rap/música por aí, ou até mesmo na zona norte? Alguém mais próximo que te inspira?O Rap no Marco está a crescer, alguns dos primeiros que começaram a fazer música aqui não estão no ativo mas estão a surgir muitos mais também, o ASIG, que produziu o meu mais recente single "FHL", inspira-me bastante principalmente a nível de beats mais fora da caixa, teria todo o gosto em continuar a trabalhar com ele nesse sentido. Estamos agora a preparar um álbum só com artistas locais, como o Sujeito, o ASIG, o Pablo e o Fatty B.5. Estás ligado às Artes Plásticas na FBAUP, e se certa forma também se insere nas tuas artworks, já que são a teu cargo. De certa forma, dás valor à componente visual dos teus projetos?A componente visual é imprescindível. Na faculdade comecei pelo autorretrato na pintura e no desenho, todo o processo de autoanálise contribuiu para procurar a minha linguagem na música e no vídeo. A relação entre a imagem e a música é muito importante no meu trabalho, não quero usar nenhuma delas como ilustração da outra, quero fazê-las como uma peça só.
6. Dizes até no teu canal do YouTube "No seu trabalho artístico serve-se do vídeo e do Rap como principais formas de expressão, estando presente uma forte influência da pintura e do desenho." É algo que te fascina e sentes que marca a diferença no panorama musical, hoje em dia?É sem dúvida algo que levo a sério. Penso que no geral se vê a imagem como algo útil (nada contra, gosto de muitos videoclips só pela estética, sem conteúdos complexos). No meu trabalho em específico, seria redutor colocar o vídeo numa posição secundária, portanto, é um bom caminho a explorar na música. Embora ache que atualmente a imagem esteja tão banalizada que o público pode não olhar tão atentamente para o vídeo, caso aconteça, espero que seja a música puxar o espectador para cima.7. Participaste no álbum do VULTO. recentemente, como surgiu essa oportunidade? É uma influência para ti o estilo de produção? Já apreciavas o trabalho dele?As primeiras interações foram no Twitter, ele já conhecia a minha cena e a dada altura recebi o convite para participar no álbum e foi só escrever e gravar. O beat da "Megalodon" foi um desafio que me agradou, sendo uma sonoridade muito própria, é sempre uma influência a considerar. Antes desta música já apreciava o trabalho dele, na altura não me importava nada de ter participado no primeiro As Irmãs Reúnem, aliás, deve ter sido esse o primeiro projeto que ouvi e me chamou à atenção para descobrir mais do trabalho dele.8. Quanto ao projeto "Fuso Horário Luso", sei que já explicaste numa entrevista passada que consiste no facto de usares as horas da madrugada para criar, o que podemos esperar mais deste projeto? Irá ter sempre a vertente visual associada?Estou a trabalhar nele neste último ano de faculdade, será em princípio um EP em que cada faixa terá um vídeo. O sentido dos vídeos e das músicas interligam-se, o objetivo não é uma compilação de faixas e vídeos soltas(os). Vou ter um fundamento teórico a nível de conteúdo, portanto, terá muitas camadas de interpretação.9. Reparei que assumiste uma nova identidade em forma de um símbolo vermelho e azul, e a mudança do nome "Major" para "Maior Major" o que significa o símbolo e porquê esta pequena mudança de nome?O símbolo é um brasão que desenhei, já existia na "Aljube", na "FHL" procurei destacá-lo mais, o azul e o vermelho vem muito da pintura, por serem cores psicologicamente opostas dão uma ideia de conflito de ideias, coisa que está implícita nas minhas letras. A mudança de nome teve que ser feita quando dei upload da "Aljube" para as plataformas, existiam demasiados Major, já tinha Maior Major como AKA nas minhas letras, então foi a única opção. Foi uma situação chata na altura, mas no fundo foi positivo porque acho que este nome tem mais a ver com o personagem que criei.10. É de notar que tens um tipo de escrita mais extensa, fazendo o ouvinte procurar pelo tópico, além de anotares algumas partes das tuas letras aqui no Genius. Dás valor às rimas mais encriptadas?Uma grande dificuldade que tenho passa mesmo por perceber se o que escrevo é compreensível, mas sinto que melhorei muito quanto a isso desde o primeiro som. Embora ache positivo haver essa encriptação também tenho em consideração que é positivo passar a mensagem principal de forma clara às vezes, senão o diálogo com o ouvinte desfaz-se. Eu como ouvinte gosto de letras bastante encriptadas, que pedem muitas audições e interpretações, não tanto a pesquisa de referências.11. Tens particular gosto por uma escrita mais abstrata, por exemplo? Ou é consoante o tema ou a faixa em si?Se for escrita abstrata no sentido de ter o conteúdo camuflado, sim. Há sempre interesse em perceber a mensagem das músicas, agrada-me letras com um vocabulário simples e um conteúdo complexo.12. Além do rap, estiveste ligado a alguma vertente do hip hop? Por exemplo, o graffiti já que está ligado à pintura, já fizeste graffiti? Qual a tua opinião sobre o mesmo?Estive ligado com pessoal que faz graffiti, não o pratiquei diretamente, só apropriei-me de características do estilo para as minhas pinturas. Tirando algumas tags insignificantes no atelier da faculdade, nunca me aventurei muito e duvido que vá acontecer, deve ser a vertente que se afirma com mais certeza como vinculada às ruas, isso em nada tem a ver com o meio rural onde cresci e a minha personalidade que me faz sentir bem ao criar em espaços interiores. No entanto, gosto bastante de ver e tenho a certeza que me inspirou de certa forma.
Para além do rap, não pratiquei mais nenhuma vertente, mas estas ideias estão tão diluídas que não é algo que me faça estar interessado. Se um dia deixar de me encaixar no que chamam hip-hop ou rap, é só uma consequência de me descobrir enquanto artista.13. Por fim, ambição para um palco, uns ouvidos e um feat.Atuar no Hard Club é o sonho de qualquer pessoa como eu, como ouvinte estive várias vezes na front line daquela casa e agora que faço música é um dos meus objetivos. Espero conquistar mais pessoas que se interessem realmente por compreender, é sempre bom perceber que os props que mais me enchem de orgulho são de pessoas que percebem do assunto, artistas inclusivé. Espero que surjam bons feats, o foco agora é o "Fuso Horário Luso", mas a minha ambição é trabalhar para fazer algo com algumas das minhas grandes referências a nível nacional, mais experientes. Blasph é um bom exemplo, é dos artistas que mais ouço desde que comecei a rimar, mas há muitos mais.