Facção Central
Alcatraz
[Verso 1: Eduardo]
Da cobertura, eu observo os moleques lá embaixo
Chinelo no cotovelo jogando bola descalços
Felizes sem muro com caco de vidro
Sem vigia com walkie-talkie, câmera de vídeo
Indo pra aula sonho atrás da blindagem do Nissan
Com pipa, pião, carrinho de rolimã
Tenho 12 e até hoje ninguém reclamou em casa
Que na minha cobrança de falta eu quebrei sua vidraça
Não tem graça no condomínio, minha bike nova
Me sinto igual a um hamster correndo na gaiola
Meu pai nunca me buscou depois da aula
Pra eu ver ele, só marcando horário com a secretária
Minha mãe só se preocupa com plastica, joia
Alta costura, teatro, desfiles de moda
Pra eles foda-se o que o pobre tá comendo, bebendo
Aí eu termino de computador, escargot, só que preso
Não passo de mercadoria, produto pra sequestro
Meu chofer na Blitz falsa é projetil no cérebro
Pra quem joga sozinho não tem cartucho legal
Sem internet eu nem teria amigo virtual
Foda-se o parque aquático, o toboágua
Quero a bandeira do meu time, gritar gol na arquibancada
Daria meu kart, minha parte na herança
Pra tá no bar do morro jogando fliperama
[Refrão 1 (x4): Eduardo]
Sonho com a carta de alforria da minha Alcatraz de ouro
Com a paz sem vigia, nem muro de tijolo

[Verso 2: Dum-Dum]
Aqui debaixo, eu observo a cobertura de luxo
Como seria abrir a geladeira e ter de tudo
Morar num apê de 600 de área construída
Fim de semana na fazenda, no haras da família
Vou pra aula sonhando com um copo de leite
Com as prateleiras da Ri Happy, um tênis sem silver-tape
Até hoje um frango assado foi meu melhor almoço
Esmola do padeiro pra eu não olhar pro seu forno
Não tem graça na favela rolê com a minha bike roubada
Perto de cadáver, gambé dando cabada
Há, se eu esconder uma câmera pra filmar
O que meu pai me bate, vira santa a babá
Minha mãe só se preocupa com a escolha do vestido
Tem que ser bem fodido pra vender doce no seu vidro
Nasci pra ser cobaia, puta que pariu
Pra testar com a 938 terno blindado de 9 mil
Igual ao cão que odeia o gato, gato que odeia o rato
Por instinto quer o menino do condomínio enterrado
Filho de egoísta, que país é turista
Praga ruim tem que cedo trombar pesticida
Tem foto em Orlando com Mickey abraçado
E eu pra andar num Vectra é só algemado
Daria até minha automática com dois pentes cheios
Pra nunca mais sonhar com o lanche na hora do recreio
[Refrão 2 (x4): Dum-Dum]
Sonho com a carta de alforria da minha Alcatraz de compensado
Com a paz sem revólver, nem refém torturado

[Verso 3: Eduardo, Dum-Dum]
O vinho do meu pai é 12 mil a garrafa
Penso no numero de cesta básica, o apetite vasa
Prevejo que um dia vai ter bomba no motor
Virou a chave no contato, adeus, doutor
Dono de loja, famosa, várias filiais
Tipo que odeia pobre, mas não seus reais
Tem como hobby humilhar a empregada doméstica
Também pegar o jato e pular de paraquedas
O mundo é o corpo e ele é o tumor maligno
Descende de quem roubou as terras dos índios
Eu nunca vou ter minha carta de alforria
É que corpo em chamas não é problema da minha família
Meu sonho é ser astro de cinema
Mas não ser o ator preto carregando bandeja
Quero dar coletiva, ter minha cara fotografada
Mas não pra explicar minha fuga cinematográfica
Harvard pro pivete de patinete no pé
Um do tambor pro de isopor vendendo picolé
Sem Game Boy, brinquedo da Tec Toy
No aniversario é só 2 Dolly e um bolo Seven Boys
Eu sou o artista plastico pronto pra expor
Seu retrato falado no museu da dor
Tem um muro de lágrima entre o pobre e o boy
No lado dourado, cresce a vítima
No vermelho seu algoz
[Refrão 1 (x2): Eduardo]
Sonho com a carta de alforria da minha alcatraz de ouro
Com a paz sem vigia, nem muro de tijolo

[Refrão 2 (x2): Dum-Dum]
Sonho com a carta de alforria a minha Alcatraz de compensado
Com a paz sem revólver, nem refém torturado

[Refrão 1 (x2): Eduardo]
Sonho com a carta de alforria da minha alcatraz de ouro
Com a paz sem vigia, nem muro de tijolo

[Refrão 2 (x2): Dum-Dum]
Sonho com a carta de alforria a minha Alcatraz de compensado
Com a paz sem revólver, nem refém torturado