Facção Central
Um Gole de Veneno
[Verso 1: Dum-Dum]
Hediondo premeditado nem sei o artigo
Só sei que eu tô feliz vendo meu pai ali caído
Prometi pra coroa o fim do olho roxo
Da agressão verbal, hematomas no corpo
Cansei do garoto propaganda da Ypióca
Escravizando ela, exigindo posição erótica
Era foda ser o filho da piada do bairro
Tomando álcool Zulu, pé de cana graduado
Toda madrugada, duas, três horas
Vizinha acendendo a luz com ele, chutando a porta
Quebrando a casa, corte no supercílio
Mexia com a mulher dos outros, era socado pelos maridos
No começo eu até comprava, saia com revólver
Vi que eu tava sendo loque
Deixei esse cu trombar a morte
Toda mão alguém descolava um emprego
Só que quem passa a noite bêbado não acorda cedo
Quando eu trazia ele do bar vomitando pelo corpo
Como eu queria tá morto, ter ido no aborto
Dava vontade de esmagar o crânio dele na guia
E deixar no meio da rua pro caminhão passar por cima
Cuzão, eu só queria você sóbrio sem ressaca
Pra não ter mais bituca apagada na minha cara
Como você não foi homem trocou sua família pela garrafa
Morreu com o mesmo oitão que me dava coronhada
[Refrão: Smith, Vani e Dener]
De bar em bar, mais um gole de veneno
No duelo entre o copo e a vida
O álcool acabou vencendo
[Verso 2: Dum-Dum]
Domingo cedo e ninguém tá indo pra missa
A velha com a Bíblia tá indo buscar o marido na delegacia
Queria fiado, só que bebeu primeiro
Tomou uma pá de garrafada e acordou preso
Cliente preferencial do Garra
De vez em quando a injeção de glicose, era no pau-de-arara
Café amargo comigo só no meio da cara
Pra queimar o globo ocular pra não ver mais a cachaça
Preferia nem colar no banho gelado
Senão na privada eu matava ele afogado
Foi na época de escola que ele mais me batia
Puta sol de manga comprida escondendo as feridas
Até que um dia por mais que fosse constrangedor
Mostrei os machucados pro professor
Na esperança que alguém me livrasse do purgatório
Que o juiz tomasse a guarda e eu fosse pro reformatório
Reunião dos pais, expectativa, não pegou nada
Xaveco, blá blá blá, abraçaram as lágrimas falsas
Não esperei a próxima surra, fugi de casa
Queria uma noite sem caco de vidro, louça quebrada
Mas me senti covarde, deixei minha mãe sozinha
Abri precedente pra ela ser queimada viva
Fugiu um menino inofensivo, voltou um homem agressivo
Convicto, quero um duelo e só um saia vivo
[Refrão: Smith, Vani e Dener]
De bar em bar, mais um gole de veneno
No duelo entre o copo e a vida
O álcool acabou vencendo
[Verso 3: Dum-Dum]
7 horas, acordei pra ir pro trampo
Pressentimento ruim, clima pesado, estranho
Tchau, mãe, catei a bolsa com a marmita
Meu pai no chão da cozinha, passei por cima
Outro dia ficou doente parecia até um sonho
No hospital falou dos Alcoólicos Anônimos
Mas bastou receber alta, ver que não era grave
Pra ele ir pro balcão encher o cu de conhaque
Nada difere o fabricante de bebida do de arma
Os dois vende velório na caixa, lucram com a sua desgraça
Vejo o Denarc prender o vendedor de cocaína
E deixar livre o de Ferrari que te mata com pinga
Cheguei feliz do trampo, até abrir a porta
Foi quando eu vi no sofá minha coroa quase morta
Pra catar o dinheiro da luz bateu com tijolo
Fez um buraco na testa de uns trinta pontos
Me acalmei liguei um vizinho com Voyage
Pra enfermeira dei o álibi: caiu da lage
Voltei passei cal no oitão com a flanela
Pus seis no tambor esperei na janela
Chegou de madrugada, pediu perdão pra mim
Cuspi na cara tirei e ri quando vi ele cair
Mesmo indo pra cadeia, sinto um puta alívio
Aí, se teu pai te trocou pelo álcool, abre o peito dele com um tiro
[Refrão: Smith, Vani e Dener]
De bar em bar, mais um gole de veneno
No duelo entre o copo e a vida
O álcool acabou vencendo