Filipe Ret
Moralistas e Libertários
Os moralistas apontam o caminho certo. Para os libertários, não há caminho. Moralistas demonizam os libertários e desejam exterminá-los. Libertários acham os moralistas entediantes, malas e indiferentes.

Moralistas são cínicos no sentido pejorativo. Libertários são cínicos no sentido filosófico. Moralistas trabalham de braços cruzados. Libertários vagabundeam de braços abertos. Libertários contêm. Moralistas estão contidos. Moralistas entendem os libertários. Libertários compreendem e abrangem os moralistas.

Moralistas são profundamente perdidos e superficialmente objetivos. Libertários são profundamente objetivos e superficialmente perdidos. O moralista é religioso para fugir da própria escuridão. O libertário foge da religião para conservar sua própria luz. O moralista quer ser do bem. O libertário quer ser encantador. Moralistas compram o que é bonito. Libertários buscam o que é belo. Moralistas convencem. Libertários seduzem.

Moralistas colocam os valores da sociedade sobre os seus valores existenciais. Libertários colocam seus valores existenciais acima de tudo. Moralistas superestimam a Lei. Libertários estimam a Lei. Pro moralista, o Estado é Deus. Pro libertário, o Estado é um moralista gigante.

Pros moralistas, a contradição é indigesta. Pros libertários, a contradição é edificante. Moralistas acreditam nas palavras. Pros libertários, o silêncio tem sempre razão. Moralistas se envolvem. Libertários se desenvolvem.

Moralista é o cara que tenta conquistar a mulher oferecendo drinks, joias, jantares. O libertário é o cara que assalta o coração da mulher com um olhar, com uma palavra. Moralistas falam. Libertários cantam. Moralistas olham pro seu olho. Libertários olham pra sua alma. O olhar dos moralistas é inofensivo. O olhar dos libertários é venenoso, debochado, futurista, perverso, livre e atravessa as pessoas deixando-as nuas. Moralistas olham. Libertários veem.

Moralistas vivem pra razão. Libertários vivem pra emoção. Moralistas pensam e têm. Libertários sentem e são. Pro moralista, a emoção é errônea e a razão é certeira. Pro libertário, a emoção encoraja e a razão acorvarda. Moralistas dão presentes. Libertários dão carinho. O moralista quer deixar bens. O libertário quer deixar saudade.

É comum os moralistas chamarem os libertários de suicidas. Moralistas defendem a vida do ponto de vista da própria vida (que é curta). Libertários também defendem a vida, mas do ponto de vista da morte (que é eterna). Moralistas riem somente em vida. Libertários gargalham pela eternidade. Moralistas têm razão até a morte. Os libertários começam a ter razão quando morrem. A morte é a vingança dos libertários; é a resposta do romantismo libertário aos moralistas. Quem são os verdadeiros suicidas?

Os românticos sempre riem por último.