Zé Ramalho
As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor
Tá rebocado, meu compadre
Como os danos do mundo piraram
Eles já são carrascos e vítimas
Do próprio mecanismo que criaram
O monstro sist é "retado"
E tá doido pra transar comigo
E sempre que você dorme de touca
Ele fatura em cima do inimigo
A arapuca está armada
E não adianta de fora protestar
Quando se quer entrar num buraco de rato
De rato você tem que transar
Buliram muito com o planeta
E o planeta como um cachorro, eu vejo
Se ele já não aguenta mais as pulgas
Se livra delas num sacolejo
Hoje a gente já nem sabe
De que lado estão certos cabeludos
Tipos estereotipados
Se é da direita ou da traseira
Num se sabe lá mais que lado
Eu que sou vivo pra cachorro
No que tô longe, eu tô perto
E se eu não tiver com Deus, meu filho
Eu tô sempre aqui com o lho aberto
A civilização se tornou tão complicada
Que ficou tão frágil como um computador
Que se uma criança descobrir o calcanhar de Aquiles
Como um só um palito pára o motor
Tem gente que passa a vida inteira
Travando a inútil luta com os galhos
Sem saber que é lá no tronco
Que tá o coringa do baralho
Quando eu compus, fiz "Ouro de Tolo"
Uns imbecis me chamaram de profeta do apocalipse
Mas eles só vão entender o que eu falei
No esperado dia do eclipse
Acredite que eu não tenho nada a ver
Com a linha evolutiva da Música popular Brasileira
A única linha que eu conheço
É a linha de empinar uma bandeira
Eu já passei por todas as religiões
Filosofias, políticas e lutas
Aos onze anos de idade
Eu já desconfiava da verdade absoluta
Raul Seixas e Raulzito
Sempre foram o mesmo homem
Mas pra aprender o jogo dos ratos
Transou com Deus e com o lobisomem