Astrud Gilberto
Ponteio
Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse o amor ou dinheiro...

Era um, era dois, era cem
Vieram prá me perguntar:
"Ô voce, de onde vai
De onde vem?
Diga logo o que tem
Prá contar"...

Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol
Nem vento...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar...

Prá cantar!

Era um dia, era claro
Quase meio
Era um canto falado
Sem ponteio
Violência, viola
Violeiro
Era morte redor
Mundo inteiro...
Era um dia, era claro
Quase meio
Tinha um que jurou
Me quebrar
Mas não lembro de dor
Nem receio
Só sabia das ondas do mar...

Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola
Ponteio!
Meu canto não posso parar
Não!...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar, prá cantar
Ponteio!...

Pontiar!

Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro
Quase meio
Encerrar meu cantar
Já convém
Prometendo um novo ponteio
Certo dia que sei
Por inteiro
Eu espero não vá demorar
Esse dia estou certo que vem
Digo logo o que vim
Prá buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar prá cantar...
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar
Ponteio!...

Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar
Ponteio!...

Prá cantar
Pontiar!...

Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Prá cantar!