Vinícius de Moraes
Apelo / Soneto de separação
[Estrofe 1: João Braga]
Ah, meu amor, não vás embora
Vê a vida como chora
Vê que triste esta canção
Ah, eu te peço, não te ausentes
Porque a dor que agora sentes
Só se esquece no perdão
[Estrofe 2: João Braga]
Ah, minha amada, me perdoa
Pois embora ainda te doa
A tristeza que causei:
Eu te suplico, não destruas
Tantas coisas que são tuas
Por um mal que já paguei
[Estrofe 3: Cuca]
Ah, meu amado, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu…
Se tu soubesses, um momento
Todo o arrependimento
Como tudo entristeceu…
[Estrofe 4: Cuca]
Se tu soubesses como é triste
Eu saber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus!
Ah, meu amor, tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus
[Estrofe 5: Manuel Alegre, falando]
De repente, do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma;
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
[Estrofe 6: Manuel Alegre, falando]
De repente, da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama;
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
[Estrofe 7: Manuel Alegre, falando]
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente:
[Estrofe 8: Manuel Alegre, falando]
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
[Conclusão: João Braga & Cuca]
Ah, meu amor, tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus