Sabemos que a vida, de emigrante nĂŁo Ă© fácil Tem que se ter força, de vontade e ser ágil Ter que ouvir e engolir, ainda fingir sorrir feliz “Trabalha e está calado, se nĂŁo volta para o teu paĂs”
Mas, e quem cá fica, neste caso uma filha Que sempre que o telefone toca, o seu olhar brilha Mas tambĂ©m se arrepia, pode ser uma má notĂcia Mas a voz do outro lado, responde com uma carĂcia
“Tenho tantas saudades”, é a frase mais dita Com Portugal a ir ao fundo, tiveram que se fazer à vida Se pudessem tinha ficado, nunca teriam emigrado O que juntaram em 20 anos, já foi todo para o estado
Que destrĂłi um paĂs, que nem os seus mantem cá dentro No entanto eles lá fora, recordam-no com sentimento Lágrimas partilhadas, no final de mais um dia Ambas pela saudade, perante a casa meia vazia
Sentir falta de um abraço, que afastasse a tristeza De uma boa conversa, ou um simples convĂvio Ă mesa É um ano a contar dias, Ă espera que chegue o verĂŁo Para voltares a abraçar, aqueles que tens no coração
RefrĂŁo(x2) Sentes o suplĂcio, a saudade Ă© maior Nada Ă© propĂcio, sem famĂlia em redor É o sacrifĂcio, muito sangue e suor Pelo benefĂcio, de uma vida melhor
Telefonemas vão servindo, para encurtar distâncias Mas vida de emigrantes, não é luxo e extravagâncias Não é um mar de rosas, como muitos subentendem Aquilo que digo aqui, todos os emigrantes sentem
Coragem pra deixar tudo, e sem nenhuma certeza Para poder ter um sustento, e meter comida na mesa O mais básico da vida, conseguido com sacrifĂcio Muitas horas de trabalho, em mais do que um ofĂcio
Dar tudo pelos seus, ansiando a hora de voltar Saber o que Ă© saudade, nĂŁo ouvir Fado sem chorar Regressam no VerĂŁo, a quem sempre lhes foi fiel Apontados por outros, que nunca as sentiram na pele
“Ali vem o emigrante, a causar grande alvoroço” Gozam com o sotaque, mas nĂŁo reconhecem o esforço NĂŁo se acham superiores, por viverem no estrangeiro Certamente preferiam estar, com a famĂlia a tempo inteiro
Acordas durante a noite, assustada e mal disposta Gritas pelos teus pais, mas nĂŁo obtĂ©ns resposta Corres para o quarto vazio, onde eles se deitavam Se nĂŁo fosse este paĂs de merda eles ainda cá estavam
Mas aqui nĂŁo há sustento, Ă© impossĂvel ter uma vida Depois das contas pagas, nĂŁo há dinheiro para comida Velhos incapacitados, la fora recebem o subsĂdio Enquanto que em Portugal, eles pensam no suicĂdio
Eles optaram e partiram, com a saudade como companhia Também a filha sente a dor, como se fosse telepatia Agora trabalham sem folgas, dia e noite bem ou mal Pensando em reencaminhar, esse dinheiro para Portugal
Por condições financeiras, ou um patrão autoritário Não puderam estar presentes, nem no teu aniversário O amor é incondicional, tu estás debaixo do seu escudo Tem calma amor, um dia serás tu a dares-lhe tudo