Amália Rodrigues
Defesa do poeta
[Verso 1: Natália Correia]
Defesa do poeta
Senhores jurados sou um poeta
Um multipétalo uivo um defeito
E ando com uma camisa de vento
Ao contrário do esqueleto

[Verso 1: Natália Correia]
Sou um vestíbulo do impossível um lápis
De armazenado espanto e por fim
Com a paciência dos versos
Espero viver dentro de mim

[Verso 2: Natália Correia]
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
Uma avaria cantante
Na maquineta dos felizes

[Verso 3: Natália Correia]
Senhores banqueiros sois a cidade
O vosso enfarte serei
Não há cidade sem o parque
Do sono que vos roubei

[Verso 4: Natália Correia]
Senhores professores que pusestes
A prémio minha rara edição
De raptar-me em crianças que salvo
Do incêndio da vossa lição
[Verso 5: Natália Correia]
Senhores tiranos que do baralho
De em pó volverdes sois os reis
Sou um poeta jogo-me aos dados
Ganho as paisagens que não vereis

[Verso 6: Natália Correia]
Senhores heróis até aos dentes
Puro exercício de ninguém
Minha cobardia é esperar-vos
Umas estrofes mais além

[Verso 7: Natália Correia]
Senhores três quatro cinco e sete
Que medo vos pôs por ordem?
Que pavor fechou o leque
Da vossa diferença enquanto homem?

[Verso 8: Natália Correia]
Senhores juízes que não molhais
A pena na tinta da natureza
Não apedrejeis meu pássaro
Sem que ele cante minha defesa

[Verso 9: Natália Correia]
Sou o apanhado das coisas
Apanhadas em delito do perdão
A raiz quadrada da flor
Que espalmais em apertos de mão
[Verso 10: Natália Correia]
Sou uma impudência a mesa posta
De um verso onde o possa escrever
Ó subalimentados do sonho!
A poesia é para comer

[Interlude: Natália Correia & Membro do Público ]
E agora antes de fazer os pedidos que ainda vou fazer ao meu querido amigo Vinicius de Morais, eu vou cantar uma coisa que eu gosto muito, que é havemos de ir a Viana. Outra vez do Alan, como não poderia deixar de ser
Ela está em todas, agora?
Não está em todas não é por minha vontade, e versos desta vez de Pedro Homem de Belo