Xeg
Rimando
[Intro]
Rimando né..

[Verso 1]
Rimando num país de tradições e preconceitos
Onde os políticos cagam no povo, mal acabam de ser eleitos
Onde as diferenças sociais aumentam num sistema imperfeito
Onde os imigrantes ilegais são tratados sem respeito
Onde a verdade é omitida e colorida por efeitos
Onde miúdas vendem o corpo
Ainda não desenvolveram os peitos
Para quê alimentar a esperança
De um sonho que vai ser desfeito
Porque antes de te conhecerem já estão a deitar defeitos
Deixa fazer a meu jeito, exercer o meu direito
Fica na tua que a minha cena 'tá ótima
Vai tentando, mas vê se chegas a meter pica na próxima
Música é como política, a guita vem primeiro
Tudo o que devia ser claro, fica escuro com o dinheiro
Se tudo tem um preço, então o meu é muito alto
Eu não preciso da fama, é no underground que eu dou o salto
Editoras portuguesas legalizaram o seu tipo de assalto
Exploração, destruição do artista e sua arte
Só que sem ajuda deles, nós espalhamo-nos por toda a parte
P'ra muitos isso é só moda, a esses a minha rima incomoda
Porque o Hip Hop não é puta que largas
Quando acabas de dar a foda
É a princesa, com ela te deitas
E ao lado dela acordas
Há quem veja o rap de uma maneira que tu não concordas
O entretenimento é necessário, excesso dele é doentio
Para quê transmitir o calor, se cá dentro eu sinto o frio
Sem qualquer intenção destrutiva
Nas rimas que eu falo e crio
Passa o mic, liga o fio
Desafio a desafio
Fluindo como um navio num rio de sujidade
A cidade é como um espelho de toda a humanidade
Onde bens desnecessários se consomem
Contrastando com a necessidade
Daqueles que pouco ou nada comem
Como isto não dá para todos, vão safando-se os que podem
Contribuindo diretamente para a degradação do homem
[Verso 2]
Faço vários tipos de sons
Conforme o meu estado de espírito
Sempre dentro das linhas do real e do empírico
Digo o que sinto, falo a verdade, não minto
Digo não a quem me oferece
Um corpo ressacado por uns pintos
Prefiro pegar ferrado do que ser eu a dar a ferra
Não são os poucos que eu conheço, já capturados nessa guerra
E eu não quero dar a berra
Ou viver sob stress
Mas se precisasse da guita para viver, talvez o fizesse
Então respeito esses, embora siga outro rumo
Sem venda nem consumo ou impureza do fumo
De nevoeiro que cai sobre toda a gente
O planeta é poluído assim como as nossas mentes
Carentes sem 'tarem desenvolvidas o suficiente
Audientes de canais independentes
Que lucram milhares por ano
É o sonho de vida americano
Pois o dinheiro é o passo atrás na evolução do ser humano
Trabalho precário para os africanos, exploração de menores
No interior do país
Ilhas turísticas são paraísos
Pedófilos administrados por neo-nazis
Num pais de milagres onde só acreditou quem quis
Não sabem nem querem saber o que diz a palavra MC
Não entendem o que ele diz
Mas essa merda não me apanha
Os músicos vendem o talento às editoras
Como as prostitutas portuguesas
Vendem o corpo em Espanha
Deixa-me eu rir dessa manha
Deixa-me rir um bocado
Num paraíso possível que nunca há-de ser encontrado
Então mantém-te ligado
Sintonizado na frequência
Utiliza a inteligência, expressa a influência
Influencio-me a mim próprio, estrelas não vejo
Parti o meu telescópio
Apenas o respeito, desejo
Esta merda é o meu ópio
Sempre stonado nunca sóbrio
Nunca deixes que a raiva se transforme em ódio
Nunca percas a honra por um lugar no pódio
O destaque é tentador mas é falso e provisório, ilusório
Sem razão nem fundamento
Quero evoluir como pessoa dentro deste movimento
Pedagogia nas palavras que eu rimo e represento
Educação, sais da escola, tudo menos educado
Muitos tem de ir trabalhar, deixam os estudos de lado
Sou maltratado pela polícia
Enganado pelas notícias
Ignorado pela política
Mal falado pela crítica
No país de Fátima, do futebol, e do Big Show SIC
Com três meses de Sol, de álcool e haxixe
Onde tem loura tem morena, tem preta, tem mulata
Tem carro descapotável, homem de fato e gravata
Cantores românticos chegam facilmente ao ouro e à prata
São como os elementos do Estado para iludir
Só que a ilusão não tapa, a violência, a droga
Os bairros de lata, as putas, o desemprego, as ressacas
Mentiroso do caraças, fala a verdade sem cinismo
Porquê?
Na minha cultura não tem racismo
Nem lugar para ignorância
Violência nem carocho
Nós não temos de nos inserir na sociedade
A sociedade é que tem de aprender connosco