[Intro]
Este lápis de cera [ainda?] está estragado...
[Verso 1]
O destino é cínico!
Acabei de ver o meu abrigo ser atingido por um relâmpago, pela segunda vez num mês, no mesmo sítio
É difícil... Já é um processo mecanizado
Ponho o primeiro alicerce e passo para piloto automático
Já esqueci sentimentos tipo amor, ciúme e carinho
Não me pareceram muito úteis nesta ilha deserta sozinho
Depois dos comprimidos, do álcool e das seringas
Percebi que eu sou a minha própria má companhia!
Estes lápis de cera devem ter algum problema
Porque a cidade ainda é cinzenta e ainda não vi borboletas
Só cores neutras! A noite soprou a vida da minha paleta
Mas lágrimas são incolores, pintar com elas, não vale a pena
Nunca pensei escavar um túnel numa fuga ao sofrimento
Tinha medo de partir uma unha com o movimento
Agora olha para mim, com roturas nos ligamentos
Com sede, sangue nos dedos, sem unhas, a escavar no cimento!
E vou escavar esse túnel!
Quando podia simplesmente pintar uma porta na parede, para nos tirar desta cela
Mas quando voltar à cidadela
Não quero que ela me chame artista plástico, mas artista de ferro!
[Refrão]
Já não consigo pintar por cima do problema
Era uma folha em branco antes destes lápis de cera
Respirava policromia. Lágrimas são aguarela
Disfarçava imperfeições na tela com lápis de cera
Já não consigo pintar por cima do problema
Sou uma folha cinzenta depois destes lápis de cera
Agora a natureza é morta, a minha cidade é deserta
Lápis de cera. Lápis de cera…
[Verso 2]
Uma imagem vale mais que mil palavras? Boa piada
Só que eu sou cego e começo a já não achar graça
Então parem de me dizer: “Abre os olhos para perceber!”
Pelos vistos, tenho um ponto de vista diferente, estás a ver?
De olhos fechados, pego nuns lápis de cera gastos
Pinto um arco-íris, deito-me à sombra desta árvore
Com uma espiga nos lábios, chapéu tombado para a frente…
Não sei o que seria de mim sem breves momentos como este
Tenho mil sonhos guardados. Mil vão-se manter escondidos
Por isso, lanço ao oceano todos estes sonhos perdidos
Dentro de uma garrafa e com um bilhete de boa sorte
Para quem os encontrar e tentar concretizar - Desisto!
Admito, sou só um o jardineiro sem amor à terra
Rego umas duas vezes e deixo o resto com a Primavera
Admito, sou só um romântico não assumido
Digo umas duas palavras e deixo o resto com o nervosismo
[Refrão]
Já não consigo pintar por cima do problema
Era uma folha em branco antes destes lápis de cera
Respirava policromia. Lágrimas são aguarela
Disfarçava imperfeições na tela com lápis de cera
Já não consigo pintar por cima do problema
Sou uma folha cinzenta depois destes lápis de cera
Agora a natureza é morta, a minha cidade é deserta
Lápis de cera. Lápis de cera…
[Verso 3]
Uma imagem vale mais que mil palavras?
Eu trocava mil imagens por uma palavra de confiança da tua parte!
Nunca quis ver-me abraçado a esta almofada
À procura do doce aroma que antes sentia quando acordava
Ainda pergunto: Como pudeste incendiar tudo?
Não era grande e quente, mas construímos aquela casa juntos!
Soltar insultos é fácil como fazer as malas
Difícil é desculpar e resolver problemas com calma
Tu não estás impressionada e eu não tenho um propósito?!
Estou montado numa estrela cadente, a tentar caçar um unicórnio!
Como te atreves em falar em espírito de sacrifício?
Eu tinha tanto espírito de sacrifício que sacrifiquei o meu espírito!
Eu estilhaço a minha vida com estas declarações ridículas
Mas vivo em câmara lenta para contemplar as partículas
Não sou uma folha em branco - Nem cinzenta!
Eu sou uma tela repleta de rabiscos e padrões sobrepostos a lápis de cera!