[Intro]
Cara de sono... de facto, com...
Água do bongo... placa de som...
A data em que vou...
Arrasto o meu corpo...
(Quê? Não percebi nada)
[Verso 1]
Cara de sono. De facto, com um sorriso de quem acabou de entornar a água do bongo na placa de som
Um dia, torno irremediável a escolha da data em que vou
Entretanto, arrasto o meu corpo, até ao doutor, porque o meu frasco acabou
Frios suores, poros disparam vapor
Horas depois, para aliviar o ardor no peito, eu escrevo
Mas mãos tremem sem parar, ao compor imagens extraídas da parte de trás do meu topo
À frente, uma cara de poucos amigos que não percebem que não estou para conversas sem termos de conversar antes sobre isso
Uma cara de poucos amigos, independentemente do número
Funcionam todos à base de avisos, eu não me resumo num
Eu sumo-me
Façam rolar esse tapete de alcatrão na minha frente, como se fosse a passar o carro da Google
Eu nunca espreitei o mapa
Fedelhos pedem conselhos, numa de partilha e comunhão com as massas - Desamparem-me a loja
Esta é para a corja que prega os meus momentos medíocres
Como se tudo em que toco se tornasse magnífico – É esse o espírito
Hei-de morrer pobre pela minha obra
Assim por alto, até agora, devo ter ganho, sei lá, um cêntimo por hora
Eu preferia acabar num lar. Não, eu preferia doar um rim
Não, a sério, eu preferia afogar o meu primogénito
Num alguidar do que vê-lo a crescer até se tornar um básico:
Pela morte, serás exemplo. Eles que façam de ti um mártir
[Interlúdio]
Dígitos... convencido... negativo... positivo...
Disso, acredito... vinho... sozinho... amigos
[Verso 2]
No que toca à quantidade de dígitos
Estou convencido que o meu saldo negativo ultrapassa o teu positivo
Além disso, acredito que, só com vinho
Já me embebedei mais sozinho que tu com os teus amigos
Quando escrevo, escorre quente o veneno que me corre dentro
Este é o meu adeus precoce. A minha laia morre cedo
Nervoso? Só sempre. Corto rente laços
Falo “Fêmea, um dia volto, mas hoje ainda não pode ser”
Pé na tábua. Eu não preciso de nada
Escrevo estas letras com a mesma caneta com que desenho a capa
Trancado no quarto, quando calço luvas de borracha
Recorto letras de revistas e envio anónimas cartas de ódio às ex-namoradas
Elas sabem o que aqui se gasta
Não tenho jeito com nomes, sou péssimo com datas
Porque adoro fumar bêbado
Há cinco anos em casa mas moral altíssima, numa de “eu nunca voltei da estrada”
A vida não presta. Só ira resta
Temo não alcançar os quarenta. Não há tempo para dormir a sesta
Desculpem-me se não ando de corno preso à testa com um elástico, a peidar borboletas
Eu vejo além das tretas