Djonga
Djonga, ‘Heresia’ (Análise)
Rapper mineiro trilha carreira solo depois de despontar com o coletivo DV Tribo
Djonga na web série "Literatura e Poesia Marginal". Foto: Reprodução

Foi a DV Tribo que introduziu Djonga no jogo após chamar a atenção com algumas faixas do grupo no fim do ano passado. Este é um MC que caiu nas graças dos ouvintes pelo carisma e "punchilinis" bem humoradas que chamam atenção do público. Assim, quando foi anunciado o trabalho solo do MC mineiro, os fãs de rap logo se empolgaram, afinal ele é uma das promessas atuais. "Vida Lixo"e "Poetas no Topo" colocaram as expectativas lá em cima, definido também o que podíamos esperar de Heresia.

O disco é uma bela estreia para o MC, pois define uma identidade, apresentando aos fãs suas influências. Já vínhamos identificando em faixas/participações solo lançadas antes do disco ou mesmo em versos pela DV Tribo as características que tornaram Djonga tão popular, dentre elas não podemos deixar de citar a influência do grupo Racionais MC’s - dificilmente há uma faixa ou verso que Djonga não interpreta/reinterpreta uma linha do grupo paulista.
A arte da capa também é um dos destaques, a referência ao Clube da Esquina é uma prova da genialidade do MC

A produção do álbum, embora assinada por 6 produtores diferentes, possui uma certa similaridade, um boom bap misturada com cloud que fornece um tom de melancolia traduzido nas letras do MC. Apesar do clima triste descrito com histórias, metáforas e analogias nas letras, em situações que muitos podem se identificar, sua entrega cheia de energia contrasta com este aspecto do disco e o resultado é um tom otimista mesmo que as situações apresentadas nas linhas sejam revoltantes e deprimentes. Não resta dúvidas neste disco que Djonga acredita que este seja é o momento de ascensão do jovem negro.
Vale destacar ainda que Heresia chega pelo selo Ceia Ent. do Don Cesão. Esta banca começa a fazer suas “jogadas” para ser colocada como uma das mais importantes do rap nacional, sendo este álbum o pontapé inicial para alcançar o objetivo.

Confira abaixo os comentários e avaliações da equipe:Djonga é mais um jovem rapper que se destaca em seu grupo e se lança solo. Trilhando caminho semelhante a BK—a quem foi muito comparado—, procura em seu primeiro full corresponder ao frenesi criado quanto à sua capacidade. Algo que tem sido muito comum por aqui, essa expectativa e urgência relativo a promessas que surgem. O estilo tem se popularizado e essa eterna renovação é uma necessidade do público sempre sedento. O momento é propício, e ele busca aqui aproveitar—assim como outros também devem. Urgência também dos próprios artistas. Talvez a juventude contribua. Sentimentos e ideias fervilham na cabeça do rapper—'minha mente é um campo minado'—, o desejo por ascensão em um cenário cada vez mais concorrido. 'É tipo Arte da Guerra', explica seu parceiro FBC, como se fosse um conselheiro, um irmão mais velho, insistentemente evocando Gustavo, real nome de Djonga. A bela referência estampada na arte da capa revela um artista emergente em busca de identidade e afirmação, em um trabalho no qual aduz sua irreverência e habilidade, mas que soa repetitivo e preso em delimitações próprias. Com pontos altos em 'Esquimó', destilando indignação 'sem simpatia', e em 'O Mundo é Nosso', justamente com BK no refrão—'o rap se preocupa com o povo ou com a métrica?'. No restante, sexo, ambição e auto-referência se confundem e se propagam no que parece ser seu objeto de ostentação, ficando desenxabido e massante. Contudo, há um potencial que pode ser lapidado e construído. Tenhamos calma. — Igor França
Djonga para o site RaplogiaHeresia, um dos álbuns mais esperados do proclamado ano lírico, é o aglomerado de ideias do jovem Djonga, um dos mais sujos e irreverentes da nova safra do rap nacional. Um dos maiores destaques do MC, além das várias 'punchilinis pesadíssimas, metáforas e parábolas', é a intensidade da sua entrega, que quando bem utilizada concede ótimas faixas como 'Fantasma' e 'Esquimó'. Porém, vinculada à repetição exagerada de rimas com a mesma estrutura, figuras de linguagem com sentidos parecidos e algumas referências vazias, a obra completa torna-se bastante cansativa e difícil de ouvir. A produção e a escolha dos beats, que contou com nomes já conhecidos do cenário, é um dos pontos fortes. Vale destacar o instrumental impecável do Coyote em 'O Mundo É Nosso', que conta com participação de BK no refrão, uma das influências mais nítidas do Djonga na construção do álbum, além dos Racionais MCs.
A arte da capa também é um dos destaques, a referência ao Clube da Esquina é uma prova da genialidade do MC, que mostrou vários trabalhos ótimos e bem recebidos pelo público antes do lançamento do álbum, mas que deixou a desejar perante as expectativas do seu primeiro trabalho solo. Os pontos fracos citados não fazem do álbum ruim e os pontos positivos provam bastante a qualidade e o potencial do Djonga, um MC de personalidade e um nome que não iremos esquecer facilmente. — Lucas WildembergMembroNotaIgor França6,5LucasWildemberg7kray8Henrique Marley6,5LucasGabrielRM8,2Marta Barbieri7,5ThiagoLeve8,5Ruthe Maciel6FelipeAdao7ramoshenrique7Gabrielove8domrafa7Maggot6Sulamerica7,8LKSZZ8Pelizzle7NetoMonteiro7,5Ariel Paiva8,5Eduardo Keneeth7,5JoaoOtto7,5
O cenário esse ano é bem diferente. Em 2016 Bk' reinou praticamente sozinho, já em 2017, embora tenhamos começado com este ótimo álbum do Djonga, o público está mais exigente. As expectativas são grandes para muitos artistas. No entanto, isso não quer dizer que o MC mineiro decepcionou. Podemos ver pela avaliação que o álbum agrada no geral e é indiscutível que o membro da DV Tribo é um dos favoritos da atualidade. Resta esperar para ver como Heresia ficará diante de outros trabalho igualmente esperados.