Djonga
Sangue, Suor e Lágrimas Parte 2
[Verso 1: Max Souza]
Céu negro, lar de anjos e demônios
Onde tudo inspira sonhos, ilusões, pesadelo, canções
Nossa sinfonia é o gueto onde a poesia sangra
Sangue, negro, drama
Adapte o enredo
Tira Chico Buarque, coloca Criolo
Com um novo cálice na trama
E canta como nossos pais
Pois aqui a tristeza é senhora
Desde que o samba é samba
Então chora, quebrada
Mas mostra teu sorriso
Mesmo tendo mais do inferno aqui
Do que paraíso
Nosso diabo usa farda
Mas no fim todos são vítimas
Na frente ou atrás das armas
É o nosso karma:
Sangue, suor, lágrimas
Secretamente entre a sombra e a alma
O caos, a calma de um sorriso negro
Presente na melancolia desse samba enredo

[Refrão: Sarah Guedes]
Olha quantos corpos negros aí
Estirados no chão
Olha quantos sonhos negros aí
Estirados no chão
Olha quantos filhos negros aí
Estirados no chão
Olha quantos corpos negros aí
Estirados no chão
[Verso 2: Sarah Guedes]
É mandinga mantida oração
É carência de calo no pé
É feitiço pra curar a dor
17 anos pra benzer e se foi
Pede bênção pra vó que é sinhá
Desde berço sensível a ação
Meu menino, Deus lhe proteja
Ele desce o morro, despede e sorri
Chinelo desce o beco
(Pra benzer e se foi)
Chinelo sobe o beco
(Olha quantos corpos negros aí)
Chinelo sobe o beco
(Olha quantos filhos negros aí)
Chinelo desce o beco
(Meu menino, Deus lhe proteja)

[Verso 3: Kainná Tawá]
Peço em minhas orações que toda ação seja guiada
Marcas deixadas, mãos bem calejadas, pegadas
Ancestralidade, lutas tão duras, minha face pura
Minha carne dura o tempo de sair na noite escura
Tipo eclipse, nem viu, querendo apreciar a lua
Julga, nem quer saber, mas quem tá parado na rua?
Você!
Tomam suas armas
Sangue, suor menos lágrimas
Na selva entre leões e vilões
Acertamo as falhas
Levanta que eu quero ver
Os preto vencer
Somos mais que choque, armas
Fardas na calada, bala, somos alma
Cê quer provar o que pra nós?
Só vejo covardia
Adrenalina fria em mães que arrepia
Medo, ódio, manipulação, menos ação justificada
Melodia que sara, o rap ainda salva
Melancolia os versos não desamparam
Disfarça a dor e põe amor no peito, não se cala
Conseguimos chegar até aqui, não vão regredir
Vamo insistir pra glória conseguir
Posso sentir os sinais
Somos a força de nossos ancestrais
Aliás, estrelas no gueto brilham mais
[Verso 4: Djonga]
Pus minhas correntes, agora me sinto livre
Me sinto um livro, carrego a história em mim
Prestes a cruzar o Atlântico, dessa vez como capitão
E eles não se adaptam
E o rap volta a ser um grande quilombo
Lugar pra Dandara, não pra Colombo
Hei, me lembra uma roda de jongo
"Os boy tá alto, né?"
Vão ver o tamanho do tombo
Um espetáculo
Que nem o show de Billie Holliday
E no mundo que eu criei minha lei
É, apenas Tássias podem ser Reis...
Ou rainhas
Como Iemanjá, manja?
Grandes como Gracie Jones, esbanja
O ouro que nós esbanja
É pra lembrar que cês não conseguiu tirar tudo da gente
Trabalhamos de graça 400 anos
"Bitch better have my money"
Que chore sua mãe primeiro
Cansei de ver chorar minha mãe, né?!
Michele Obama pra esses Donald Trump
Somos o trampo!
Nos entregaram o carro estragado
Vamo fazer pegar no tranco
Viemo da Angola dançando kuduro
Eles descem da Europa tudo bunda mole
Não esperavam, Davis Viola no futuro
Nos fizeram proletário, logo somos mais que prole
Do seu humor negro, ou melhor, humor branco
Lauryn não riu
Gargalharemos quando sobrar pouco Bolsonaro
Pra muita Preta Gil
É! No meu país até a bala come
E tem criança que ainda não
Falta de divisão, de visão
Culpam inflação ou extração
Grana pros gringo, deixa nós fudido
Vivendo no fim do mundo que nem Elza
Por isso merecemos prêmios, Whitney Houston
Pedem socorro quando estamos próximos
De longe, ouço: "Mayday, Houston!"
Tamo pra escrever uma nova página (Amém!)
Carolina de Jesus vai se orgulhar
Que o que era quarto de despejos
Seja o quarto dos nossos desejos
Que seja poço dos desejos pra nóis mergulhar
Antes fingiam que não escutavam
Agora vão fingir que ouviu só porque eu disse
São meus manos, minhas minas, meus irmãos, minhas irmãs
Ê, o mundo é nosso