[Verso 1]
Há muita gente
Apagada pelo tempo
Nos papéis desta lembrança
Que tão pouco me ficou
Igrejas brancas
Luas claras na varandas
Jardins de sonho e cirandas
Foguetes claros no ar
[Refrão]
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração?
[Verso 2]
Clarice era morena
Como as manhãs são morenas
Era pequena no jeito
De não ser quase ninguém
Andou conosco caminhos
De frutas e passarinhos
Mas jamais quis se despir
Entre os meninos e os peixes
Entre os meninos e os peixes
Entre os meninos e os peixes
Do rio, do rio
[Refrão]
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração?
[Verso 3]
Tinha receio do frio
Medo de assombração
Um corpo que não mostrava
Feito de adivinhação
Os botões sempre fechados
Clarice tinha o recato
De convento e procissão
Eu pergunto o mistério
[Refrão]
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração?
[Verso 4]
Soldado fez continência
O coronel reverência
O padre fez penitência
Três novenas e uma trezena
Mas Clarice
Era a inocência
Nunca mostrou-se a ninguém
Fez-se modelo das lendas
Fez-se modelo das lendas
Das lendas que nos contaram as avós
[Refrão]
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração
[Verso 5]
Tem que um dia
Amanhecia e Clarice
Assistiu minha partida
Chorando pediu lembranças
E vendo o barco se afastar de Amaralina
Desesperadamente linda, soluçando e lentamente
E lentamente despiu o corpo moreno
E entre todos os presentes
Até que seu amor sumisse
Permaneceu no adeus chorando e nua
Para que a tivesse toda
Todo o tempo que existisse
[Refrão]
Que mistério tem Clarice
Que mistério tem Clarice
Pra guardar-se assim tão firme, no coração