É uma espécie de visão aguda
Que só será visão com a tua ajuda
É como se fossemos duas faces
Uma mesma mente que encravasse
Solidões, cá e lá
Para lá dos portões e também para cá
Pois aqui alguém está desviado
Do senso comum, assim chamado
Para ti, loucura organizada
Para mim, razão ultrapassada
Vá-se lá saber o que há para retroverter
Converter, extroverter, introverter
Nestas formas de viver
Então quais é que são os espelhos da Nação?
Os que vão comer à mão ou esses outros que já cá não estão
A verdade é que não ouso contar a minha solidão
Tenho medo de acordar com o estigma da exclusão
Tudo seria diferente e aceite com mais ternura
Se dessa terra dos sonhos eu trouxesse uma aventura
Mas só tenho este vazio de confusos fragmentos
Numa memória imputável pela ação dos medicamentos
Tudo o resto vem nos livros, que não dizem a razão
Porque um dia, sem dar conta, me encontrei fora de mão
Eu sou o desconhecido
Mesmo tu, que és meu irmão
Se te contasse o passado, fechavas-me o coração
Vá-se lá saber o que há para retroverter
Converter, extroverter, introverter
Nestas formas de viver
Então quais é que são os espelhos da Nação?
Os que vão comer à mão ou esses outros que já cá não estão
Dois olhares e duas dores parecidas
Fechadas entre grades tão parecidas
As grades são por dentro e são por fora
Dá mesmo a vontade de ir embora
E assim cada um estando sozinho
Pode dar as mãos para o caminho
Tomar todas as ruas da cidade
Numa só loucura de verdade