[Letra de "Sob Pressão" com Gilberto Gil & Chico Buarque]
[Verso 1: Chico Buarque | ambos]
Falta de ar nos gemidos dos "ais"
A febre, seus fantasmas, seus terrores
Sem pressa, passo a passo, mais e mais
A besta avança pelos corredores
O médico caminha com cautela
Estuda as artimanhas do inimigo
A enfermeira brava vence o medo
Pouco lhe importa a extensão do perigo
O mundo está azarão ao Deus dará
O povo não se entrega, é cabra cega
É lá e cá sem lei, sem mais aviso
Só sei que é preciso acreditar
[Verso 2: Gilberto Gil | ambos]
Fazemos todos parte dеsta história
Mesmo que os tontos blefеm com a morte
Num jogo de verdades e mentiras
Um jogo duplo de azar e sorte
A ciência abre as suas asas
A esperança à frente como um guia
Com São João na reza, a pajelança
A intervenção de Xangô na magia
Neste canto aqui da poesia
Casa da fantasia e da razão
Abre-se a porta e entra um novo dia
Pela janela adentro um coração
[Verso 3: Chico Buarque | Gilberto Gil | ambos]
A voz de um bardo a bordo da alvorada
O sol da aurora secando o pulmão
Ano passado, se eu morri na estrada
Vai que esse ano não morro mais, não
É pra montar no lombo da toada
Desembarcar do trem da pandemia
É pra fazer da rima arredondada
O rompante final de uma alegria
Vamos em frente, amigo, vamo' embora
Vamo' tomar aquela talagada
Vamo' cantar que a vida é só agora
E se eu cantar, amigo, a vida é nada