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Emicida - Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa (Análise)





Este novo álbum do Emicida foi inspirado em uma viagem do rapper até o continente africano. Sendo assim, desde o início podíamos perceber que não seria uma simples mensagem que Leandro poderia querer passar, ou mesmo que a musicalidade do disco seria a que estávamos acostumados. Estes fatos foram se confirmando conforme as informações sobre participações, produções e arte do álbum foram sendo reveladas.

Após poucos detalhes da viagem para África, começamos a ter uma noção melhor do que estava por vir com o discurso bastante politizado na Virada Cultural, em São Paulo, seguido pela faixa "Boa Esperança", no mesmo tom, e que logo recebeu um tratamento visual ainda mais impactante. Nesta primeira música, percebemos a influência do afrobeat e uma mensagem que valorizava a cultura negra, brasileira e africana.

As faixas seguintes não ficaram para trás. "Mufete" veio mais calma, mas mostrou uma África esquecida e, de certa maneira, ignorada. E "Passarinhos" surpreendeu muitos por ser uma mensagem bastante positiva e praticamente oposta à do primeiro single.

Percebíamos, portanto, que este seria um álbum bastante diverso, pessoal e diferente do que já havíamos visto de Leandro. Ficavam as questões no ar: ele iria conseguir atender a expectativa criada? Ou melhor: será que os fãs iriam gostar do som e da mensagem proposta em “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”?Análises:Incluindo mais um capítulo na sua diversa e incrível discografia, Sobre Crianças é maravilhoso. Sensível, sem remorso, triste, extremamente alegre... Todos esses sentimentos, e outros, são encontrados nas 14 faixas que compõem o álbum. A produção é algo único e, mesmo que, em alguns momentos, as faixas não sejam rap, é possível encontrar a influência do gênero, lá. E as letras são bastante profundas, poéticas e carregadas de mensagens positivas ou críticas; não se engane: têm muito mais coisas do que aparentam. Por fim, as participações não decepcionam nem um pouco, tanto os cantores e cantoras, quanto os MCs. Mais uma obra-prima do Emicida. Viva a África e o rap nacional. Nota: 9,5 - kray"Um sorriso no rosto, um aperto no peito". É assim que começa o disco do Emicida, já anunciando os sentimentos mais notórios expressos durante as canções: um grito de alegria e reconhecimento de seu sucesso, em contraste com a revolta das opressões sofridas pelo povo negro e pobre. Ao iniciar o disco com uma homenagem à mãe, ele não só mostra seu amor e agradecimento à dona Jacira, mas zela e demonstra o respeito e encantamento das origens, adquiridos em sua viagem pela África. Tal experiência é o marco fundamental desse trabalho. De lá que ele tira inspiração e fundamenta sua obra, construindo uma personalidade de um grande compositor da música brasileira. As participações de Caetano Veloso e Vanessa da Matta demonstram essa maturidade e preocupação. Ainda em "8", temos aquele Emicida de tempos mais raivosos, com versos quentes, mas é especialmente em "Mandume" que ele manda seu melhor. Também com maestria, são feitas “Casa”, "Madagascar" e "Chapa", que comprovam que Emicida está em uma nova etapa de sua carreira: experiente, maduro e realizado, que agora não apenas almeja fazer bons discos de rap, mas, sim, grandes produções da música nacional, expandir seu sucesso e galgar ares do patamar de grandes cantores consagrados. Emicida não só canta a rua, a eleva a status de principal motivo da própria música em si.Nota: 9 - IgorFGCom maestria, Emicida crava um marco no rap nacional. Sobre Crianças é, de longe, seu álbum mais maduro, mais complexo e, também, o mais ousado. Com letras que demonstram seus sentimentos mais aflorados, o rapper está no estágio mais poético, por enquanto, de sua brilhante carreira. Com uma produção que, por vezes, pode não ser considerada, de fato, rap, ela é única e consegue conquistar pessoas como eu, que não são fãs de mistura de estilos nas bases, como MPB, muito presente neste disco. Ainda há espaço para uma resposta subliminar a alguns manos que adoram atacá-lo. O álbum inteiro funciona como To Pimp a Butterfly, de Kendrick Lamar: reverencia a etnia negra, as raízes africanas e o próprio continente, porque, afinal, "só é feliz quem sabe que a África não é um país". As participações também não deixam a desejar: estão à altura do próprio rapper. A faixa que mais me agrada, lírica e musicalmente, é "Boa Esperança", onde ele destrói racistas e conservadores com seu verso feroz e flow agressivo. Com linhas extremamente quentes, produção refinadíssima, colaborações pesadas e uma ousadia que não era vista há tempos - não só no rap, mas na música brasileira, em geral -, Emicida se afirma, mais do que nunca, como um dos grandes MCs contemporâneos do país, nos deixando ansiosos e na espera pra ver do que mais ele é capaz.Nota: 8 - sixteenbarsVeredito final Atendendo a expectativa de muitos fãs, o álbum tem sido recebido muito bem pelos ouvintes e pela crítica. E não é à toa, além de bem produzido e diverso, as histórias contadas nas letras mostram os laços com as nossas origens africanas e se propõem a denunciar uma realidade enfrentada pelo povo diariamente na sociedade brasileira, o preconceito, seja ele por questões raciais, culturais ou financeiras.

A promoção do álbum também acerta no ponto. Na semana do lançamento e após o álbum chegar nas plataformas de streaming, muitos sites especializados tem publicado notícias, entrevistas, análises e informações sobre o álbum, o próprio Leandro estado bastante ativo nas redes sociais e, por fim, o acompanhamento visual dos singles "Boa Esperança" e "Passarinhos" tem dado um show à parte.

Não deixe de conferir este que promete ser um dos lançamentos mais importantes do ano no cenário do rap nacional, além de ser, é claro, forte candidato para ser o álbum do ano de muitas listas.Média das notas: 8,8