Curumin tem curta, mas importante discografia pra música nacional
Foto: Ava Rocha
Luciano Nakata Albuquerque, desde novo Curumin, iniciou sua carreira nos anos de 1990 com Gustavo Lenza na Banda Toca. Foi também baterista da banda Zomba de Paula Lima entre 1997 e 2002. Entre 1999 e 2005 tocou na banda de Arnaldo Antunes. Em 2006 tocou com Vanessa da Mata e em 2007 com Céu. Nesse meio tempo veio o primeiro disco, em 2003, Achados e Perdidos retomando a parceria com Lenza, que seguiu posteriormente quando, dedicado somente à carreira solo, lançou seu segundo disco em 2008, JapanPopShow. Este com lançamento simultâneo no Brasil, EUA e Japão pelas gravadoras YB, Quannum Projects e JCV/ Victor Entertainment, respectivamente. Em 2012 lançou Arrocha, seu terceiro disco. Em 2017 veio o anúncio oficial de seu quarto álbum, Boca, pela Natura Musical, prometido desde 2015.
Sua breve, mas profunda discografia, faz de Curumin um dos grandes músicos dessa geração. “Um dos mais espertos jovens músicos de São Paulo, Curumin é um mestre tanto no funk americano quanto no brasileiro”, declarou Ben Ratcliff, colunista do The New York Times. Sua mistura de ritmos significa o que é o Brasil e sua imensa gama de estilos e ritmos.
Abaixo, classificados seus álbuns conforme considerado sua relevância:3. Arrocha2012, Six Degrees Records
O último álbum de Curumin até então é o mais enérgico
e com um apelo eletrônico ainda não visto. Mais uma vez com parcerias que agregam
a essa expansiva abrangência
em seu som. Ele vai do dub ao afoxé, com elementos
percussivos, programaçõese metais. Ele vai do dub ao afoxé, com elementos percussivos, programações e metais. Rico em arranjos e composições, belas canções como “Passarinho” e “Paris Vila Matilde” remetem a novos bons nomes da MPB paulista, “Afoxoque”, numa bela dupla com Russo Passapusso—que se repetirá em Boca—, ao emergente som baiano que viria a ser explorado em Duas Cidades (2016). Não dá pra afirmar qual música há uma queda de qualidade. O único motivo de este ser o último da lista é que se trata de Curumin. Curta, mas baita discografia.
— Igor França2. Achados e Perdidos2005, Quannum Projects/Epitaph
Pode-se dizer que o Curumin fez sua estreia solo abusando de
misturas. Mistura estilos musicais, referências,
e culturas: da Penha à Pequim, como ele
mesmo canta. É como se sua identidade se aproveitas
se daquilo que de melhoro mundo lhe ofereceu, como o soul-funk norte-americano e o samba brasileiro, e encontrasse seu cenário perfeito em São Paulo. As grandes capitais têm essa característica de possuir em si diversas culturas em diálogo: o Achados e Perdidos é um disco cosmopolita. Prova disso é seu sucesso internacional, a presença de “Guerreiro” no comercial da Nike e na trilha sonora do Fifa Street 2. O contexto urbano é bem explorado no álbum, Curumin canta sobre ouvir música no ônibus lotado e sobre a solidão e a correria que esse ambiente impõe sobre os seres. O cover de Stevie Wonder em “You Haven’t Done Nothing” foi, talvez, a primeira semente do projeto que Curumin viria a apresentar no ano de 2016, em um show apenas com o repertório do astro americano. A mistura e o experimentalismo oferecem, incrivelmente, um resultado orgânico e que, olhando agora, já aparece como protótipo do trabalho que se seguiria e se tornaria um dos grandes discos brasileiros, o JapanPopShow.
— Marta Barbieri1. JapanPopShow2008, YB/Quannum Projects
Cinco anos após sua estreia solo, Curumin
retornou com sua mistura de estilos e
samples sempre bem utilizados. E isso é
visto logo na sua faixa de abertura,
"Salto No Vácuo Com Joelhada",
cujo título referencia ogolpe de um personagem de anime, abrindo também as referências ao Japão que se fazem presentes em outras faixas do álbum e que são justificadas pela sua ascendência nipônica. Na faixa seguinte, a primeira colaboração do álbum surge com o saudoso Marku Ribas cantando "Dançando no Escuro", que carrega uma forte pegada da black music afro-americana. Em seguida, surge a excelente dobradinha de "Compacto" e "Magrela Fever", com seus climas leves e animados que fazem delas duas das canções mais conhecidas e adoradas do baterista paulista (a segunda, inclusive, integrou a trilha do jogo FIFA 09). Depois de 'acender as ideias', Curumin traz canções com uma linha crítica, como "Kyoto", que trata da questão ecológica simbolizada no Protocolo de Kyoto e que possui participações de Lateef the Truthspeaker e dos Blackalicious cantando versos em inglês; "Mal Estar Card" retrata a desigualdade econômica e corrupção no nosso país; e "Caixa Preta", que conta com participação de BNegão e Lucas Santtana, é inspirada no acidente com o avião da TAM ocorrido em 2007 e critica a forma como as notícias parecem sempre ser manipuladas pela mídia. No meio dessas faixas, no entanto, há espaço também para uma canção quase completamente instrumental ("Saída Bangu"), com grande uso de samples ("JapanPopShow") e uma com letra em japonês ("Sambito (Totaru Shock)"), além da excelente "Mistério Stereo" e sua viagem regada a sintetizadores. Na reta final, a bela "Esperança" antecede a instrumental "Fumanchu", que encerra um dos melhores álbuns da música nacional recente.
— LucasGabrielRM