O experiente baterista e compositor, ex-O Rappa, estreia solo após mais de dez ano desde seu último trabalho
Ao lado do baixista Lauro Farias e do DJ Negralha, Marcelo Fontes do Nascimento Vianna de Santa Ana, o Marcelo Yuka, fundou O Rappa em 1993. Antes disso já tinha participado do grupo de reggae KMD-5, da baixada fluminense. Após três discos e quase um milhão de cópias vendidas, Yuka se viu naquele que é seu maior drama. Após tentar evitar um assalto, foi baleado quatro vezes, vindo a ficar paraplégico. Mesmo sendo um dos fundadores e principal letrista—autor, por exemplo, de "Minha Alma" e a versão de "Hey Joe"—, O Rappa continuou sem ele—vindo a acabar recentemente, após mais de vinte anos de carreira.
Mas a vida dele não continuou a mesma. Sofrendo daquilo que tanto criticara e denunciara, passou certo período longe dos holofotes e do mundo artístico. Em 2004 apareceu com o grupo F.Ur.T.O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), com a qual fez apenas uma apresentação e lançou o disco Sangueaudiência em 2005. Lançou documentário em 2012 e biografia em 2014. Então começaram os trabalhos para seu primeiro disco solo. Foram dois anos de ideias, composições e então produção. Cantadas nas vozes de um grande time: Céu, Cibelle, Black Alien, Seu Jorge, Vicky Lucato, Felipe Mesquita, Bárbara Mendes e Bukassa Kabengele, esses dois últimos na maioria das músicas, as composições de Marcelo retomam sua veia crítica, mas não se limitam a isso. Reflexivo, o músico procura em Canções Para Depois do Ódio narrar a sua vida e o turbilhão de sentimentos que o tomam.
Confira abaixo os comentário e avaliações da equipe:Dezessete anos após o trágico crime que resultou na paraplegia de Yuka, ele lança seu prometido disco de estreia, e parece querer expulsar os demônios que o cercaram boa parte desse período. Desde 2006 com o grupo o músico e compositor não lançava trabalhos inéditos e com cerca de três anos em maturação chega Canções Para Depois do Ódio. Mais sereno e pondera que outrora, as composições, todas escritas por ele e cantadas por outros artistas, criticam, refletem e narram a vida urbana e a situação atual do mundo em que está inserido. Passando por momento de samba, trip hop, MPB e rock, a produção de Yuka em parceria com Apollo 9 é um grande emaranhado de referências e amalgamado de elementos, sejam sonoros ou de linguagem. O virtuosismo das melodias se espalha e é extraído por cada intérprete. Céu, Seu Jorge, o belga-brasileira Bukassa Kabengele, dão voz às inquietações de um compositor calejado pela vida e que do sofrimento consegue exprimir sentimentos, beleza e sabedoria. O trabalho é um passo à frente nessa árdua e ressentida situação, um hino de superação e aprendizado e um caldeirão de inventividade.—Igor FrançaCapaz de transformar o sentimento de tragédia em inspiração, Yuka trouxe neste disco, nada mais nada menos que gritos antes interiores e aterrorizantes, a serem difundidos nos ouvidos daqueles que o acompanham desde a saída do grupo O Rappa (que encerrou as atividades em Maio deste ano), desde a perda dos movimentos das pernas ao ser atingido por disparos. O título é, de fato, sobrecarregado. À combinar com o grave do som e as muitas guitarras nada sintônicas que se misturam aos batuques e elementos de terreiro e à música afro-brasileira em meio a sintetizadores, e também o funk. Tendo em vista que este é o seu retorno em mais de uma década, o dom do criador de hits como “Pescador de Ilusões”, “Minha Alma” e “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro” continua ileso ao tempo e fiel aos traços críticos característicos de seu repertório.—Ruthe MacielMembroNotaIgor França9LKSZZ8Ruthe Maciel9Lucas Gabriel7,2FelipeAdao8
Politizado, mas além de tudo, surpreendente, Yuka tem muito a apresentar e entrega um grande disco, rico e instigante, um dos melhores do ano até aqui.