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Kodak Ninja & Urso em Mandarim, ‘Smoking Prata’ (Análise)
Experimental e vanguardista, a dupla catarinense canta sexualidade e impulsos nas distorções vocais de sua poesia
O trap é um elemento crescente no cenário mainstream do rap norte-americano e vem dominando as produções por aqui, também. As variedades têm se apresentado, brincando com essa vertente. Nomes como Travis $cott trazem um ar soturno e hermético, algo que a dupla Kodak Ninja & Urso em Mandarim vai mais longe, em quesito de experimentação, introspecção e lugubridade. Em Smoking Prata, o tema da paixão arrebatadora, desejo e impulsos sexuais se evidenciam, de forma inquieta, em camadas poéticas que se dividem com o uso vocal como instrumento da melodia, ora para elucidar um cenário, descrevê-lo com adoração, ora para ocultá-lo, senti-lo, apreciá-lo, atravessá-lo incólume. Como a dupla descreveu:É nosso trabalho sobre amor, longe de romantismo barato, longe de esperanças, milagres, cobranças e culpa. Uma tentativa de retratar um amor entregue, um amor possível, real e diário.Este, que já é seu quarto álbum no ano, se destaca pela tom sentimental, imersivo e inspirador. A extensão vocal, as viradas repentinas e os toques em uma colcha diversa de tons, sons e arranjos, são diretrizes de uma viagem convidativa, intrigante e desprendida de julgamentos e discurso assertivo. Tudo é um invite àquela atmosfera. Tal ambientação musical precisaria de ainda mais difusão para se estender por grande período, o que os pouco menos de meia hora do trabalho se mostram outro acerto. Ainda que seja destoante e enclausurado em sua própria divagação, Smoking Prata é uma bela peça experimental e contundente em sua poética, esteticamente própria e incontida.
— Igor França
Cotação: Muito bom
Nota: 8