Produto da pós-modernidade, o álbum de niLL representa uma nova era da produção de rap
Trazemos bolacha na mochila
Animes, sci-fi, Internet, home studio, celulares, fast food. A era digital está presente na vida moderna e conduz nossas ações. Os jovens que viveram em meio a TV, lan houses e aparelhos MP3 aprenderam a se comportar e a se comunicar de uma forma nova, a viver em meio a urgência, a instantaneidade, o tempo real. Tudo é aqui e agora. Isso gerou o que sociólogos chamam de "liquidez" do mundo: tudo é fluido, passageiro, substituível, descartável, desinteressante.
niLL, jovem rapper do interior paulista, começou a carreira no grupo Sem Modos ainda em 2012. Em 2016 estreava com NEGRAXA e surgia a Sound Food Gang, grupo que conta ainda com Yung Buda—ambos representantes dessa juventude pós-anos 2000.
O novo trabalho traz um rapper já mais experiente e que resolve retomar as homenagens à sua mãe—a qual impresta o nome ao álbum—, falecida há cerca de três anos, como ele comentou à Noisey:Resolvi fazer uma homenagem pra ela de novo. Sempre gostei de mostrar essas paradas de música pra minha mãe porque ela me incentivava e acreditava até mais do que eu. Tive que fazer o Regina desse jeito, contando tudo isso pra ela saber como a gente tá segurando a barra aqui. Porque desde que ela se foi, muita coisa mudouJogando com as armas que têm, o rapper alia o som vaporwave à grandes tons de bom humor, participações de respeito e sua intimidade através de áudios de WhatsApp, num mundo onde a privacidade se confunde com a imagem.Abaixo, comentários da equipe sobre o álbum:Irreverente, o álbum é um misto de histórias adolescentes, piadas internas, homenagens à infância, saudades comedidas e substrato da internet. A sociedade atual é bem representada aqui. A liquidez e a pós-modernidade em que vivemos é tratado com leveza e humor, como nas ótimas 'Minha Mulher Acha Que Sou o Brad Pitt', 'Atari Level 2' e 'Jovens Telas Trincadas'. Nada mais significativo para uma juventude tumultuosa às próprias emoções que a fragilidade de seus aparelhos tão fundamentais para tais em sua vida social. Essa representatividade também, claro, passa pela sonoridade vaporwave. Onda que começou no final da década de 2000 com o advento da internet e softwares de produção musical. Aprisionado em suas próprias limitações, as rimas de niLL são melhor expressas por sua conotação do que pelo seu valor lírico. Sua poética extrai ótimos momentos, significativos no nosso contexto, sendo cômico, se notando parte de um meio, fruto dessa espontaneidade demasiada. Belo reflexo da nossa realidade, niLL esbarra na sua pouca habilidade para rimar, mas cresce na habilidade de criar pérolas meméticas na era dos memes.— Igor FrançaRegina é um verdadeiro presente ao rap nacional, ainda mais em um ano que a competição pelo 'topo' está tão acirrada. niLL se mostra vulnerável, se mostra real, tal qual muitos adolescentes hoje no mundo moderno, o que fica ainda mais evidente pelas temáticas, título do álbum, em homenagem a sua mãe, e títulos das faixas, como é o caso de 'Jovens Telas Trincadas' ou os áudios que costuram o álbum—em 'Valete de Copas' temos, provavelmente, um dos 'skits' mais memoráveis do ano. A produção também é única e tornou, para muitos, o primeiro disco relevante de vaporwave nacional. O aspecto visual traduz tudo isso da capa feita pela sua sobrinha até os vídeos com animações 8bits no Youtube, que revelam um pouco do seu sonho de ser animador. As participações acrescentam muito bem para a narrativa, da inédita parceria entre Ogi e De Leve aos novatos Vitor Xamã, Young Buda e Makalister. Enfim, o disco é uma verdadeira viagem na mente de um jovem adolescente moderno que provavelmente ficará marcada para muitos ouvintes do gênero.— krayEquipeNota Igor França7,5 ProsDoc9 kray9,5 Lucas Wildemberg9 Pelizlle9 Thiago Leve9,5 Rick Marley9 ramoshenrique8 FelipeAdão9,5 JVitorFelix8,5 MatheusBarros9