Sem dúvidas, Froid é uma figura relevante para o cenário há algum tempo, seja no extinto e saudoso Um Barril de Rap, em que, junto com Disstinto, Sampa e Yank, lançou um dos discos mais relevantes para o rap nacional da segunda metade da década: 2ª Via, seja a sua presença com versos marcantes em várias faixas importantes e conhecidas do rap nacional, dentre eles: "Todo Mundo Odeia Acústico", "Poetas no Topo 2" e "Favela Vive".
Foto por Julia Bandeira (@juliabandeiraph)
O Froid, já consagrado em 2015 pelo UBR, reuniu toda a expectativa criada desde essa época, e junto com o hype potencializado pelo seu single "Pseudosocial" nos deu O Pior Disco do Ano, seu álbum de estreia, que buscava escapar dos rótulos de qualidade estabelecidos durante o "ano lírico" e potencializou o alcance de seu nome, ainda que não tenha atendido as exigências do seu público. Em menos de um ano, o rapper se aprofunda nas influências no trap e com uma musicalidade diferente do seu primeiro álbum, lança a Teoria do Ciclo da Água, contendo diversos samples, passando por Erykah Badu, Bob Marley, ao documentário "Estamira", que demonstram texturas distintas e um outro lado do artista brasiliense, mas que agradou menos do que seu primeiro lançamento.
Oxigênio (Corona Disco) é o terceiro disco solo de Froid e o 7º de sua carreira. Lançado em um contexto de pandemia - inspiração para o seu título -, o álbum passeia por temas relacionados à sua história, visão de mundo, e diversos campos sociais e culturais.Não é uma piada sobre o corona virus, os assuntos não são sobre o vírus, isso é só o nome da fase que estamos vivendo, eu criei o conteúdo afim de ocupar de alguma forma as pessoas em quarentena, e também usar a arte pra fazer o registro do momento.
Froid via instagram
Capa do álbum assinada por Mark Vales
Com 10 faixas, o disco contém participações de Clara Lima, Rincon Sapiência, Hot & Oreia, Sampa (ex-UBR) e de sua companheira Cynthia Luz. Além das produções de DJ LM, Santzu (que também participa da faixa "Lupa Nova") e do próprio Froid.
Confira abaixo os comentários e avaliações da equipe:Apesar de Froid dizer que está apenas rimando, ele faz muito mais do que isso. Dentre os MCs dessa geração, o MC de BSB é disparado um dos mais versáteis quando pensamos nas temáticas que ele traz para suas músicas e a forma como entrega suas rimas. Oxigênio restabelece esse estilo único e complexo nas composições, em que percorre diferentes tópicos e assuntos com extrema naturalidade, assim como varia sua entrega e levada entre melodias e quebras de rimas bem construídas. Além disso, Froid é um dos poucos MCs que trazem faixas que falam de romance ou amor a partir de perspectiva quase que inesperadas, muitas vezes com dois ou três sentidos ou ainda refletindo sobre a sua própria trajetória pessoal, como ocorrem em “Inverno”, “Seu Edson” e “Vapor”.
Quando busca outras produções, como trap, se sai muito bem, empregando seu estilo nas melodias e cadências com facilidade. E, embora algumas produções de Oxigênio soem similares, o que passa uma sensação de repetição ao ouvinte, as faixas com colaborações se destacam com facilidade, por mudarem o ritmo do disco. O “entrosamento” do MC de BSB com os demais artistas - Cynthia Luz, Clara Lima, Hot & Oreia, Rincon Sapiência, Sampa e Santzu - adiciona um outro patamar essa versatilidade do MC, ao que inclusive se traduz perfeitamente em outros projetos colaborativos lançados pelo artista. Por fim, dentro dos últimos discos produzidos pelo MC, esse é disparado o seu melhor, ficando atrás apenas de 2ª Via (com o UBR) (2016) e O Pior Disco do Ano (sua estreia solo) (2017).— krayVivi uma confusão sentimental com Froid: o curioso caso de um dos melhores rappers que não tem um álbum à altura. Oxigênio dá a impressão de reencontro o Froid que conheci: uma narrativa internalizada, um olhar de dentro pra fora, ironia e uma sagacidade rítmica—distante de qualquer relação quanto à sua massa corpórea. As temáticas variam de acordo com os versos e parecem uma enorme colcha de retalhos de ideais: uma mente que fervilha pensamentos, algo muito típico de nossa geração, bombardeada por estímulos e informações. Essa não-linearidade pode nos deixar perdidos em algum momento, mas em toda essa nuvem de palavras que está o grande compositor que é Froid. Os versos parecem aforismos, sentenças que apresentam todo seu ideário. Quem já leu os últimos trabalhos de Nietzsche ou assistiu os filmes de Jordorowski sabe como essa forma de produzir, seja apotegmas ou a forma irônica, autorreferenciada, surrealista e até jocosa de comunicar sua visão através da arte pode ser uma experiência única. Longe de mim tentar comparar qualquer um deles, só quero mostrar como o processo criativo pode ser um complexo caminho comunicativo entre perspectivas e referenciais. De problemas raciais, existenciais e amorosos, Froid tem sempre algo interessante a rimar. A lírica, a irreverência e o talento estão ali, e isso vale nossa satisfação.— Igor FrançaIh, rapá, o Rená do Taguá tá de volta! Depois de uma longa surfada no trap, aquele Renato que chocou o Brasil com alguns dos mais profundos versos já vistos na HISTÓRIA do rap nacional, parece que voltou de cara nova. Pegou tudo que aprendeu no trap, no rap, no drill e em qualquer outro beat e convergiu no melhor trabalho solo que eu vi ele lançar após o fim do Barril (SDDS VOLTA YANK). Mesclou seus novos flows adquiridos ao longo dos últimos anos, com velhos conhecidos nossos e com a sua velha capacidade de falar de todos os assuntos do mundo, desde a guerra até a instabilidade emocional de jovens rimadores que querem fazer história em 16 barras. Tudo isso é lindo de ser visto e a sua parceria com sua musa Cynthia Luz tem se tornado cada vez melhor e mais consistente, tendo chegado talvez ao seu auge. As participações de Clarinha e Rincon não podiam ser mais excepcionais. E se hoje nós passamos pelo momento mais turbulento e triste da nossa geração, devido ao corona, Froid pegou isso e como numa metamorfose de Kafka, se transformou e ontem morreu duas vezes, tédio.—João Vitor FélixNão parei de ouvir a cena underground do “drill de portugual” para escrever esse texto, já que nunca nem ouvi drill português, mas queria começar esse comentário falando da escolha do nome do álbum: “Coronadisco” é um trocadilho meio sem graça realmente, mas que é compensado pela qualidade do trabalho do MC, e acaba sendo um detalhe que não faz muita diferença. Froid é um dos mais talentosos e versáteis da geração que movimentou a cena entre 2015/2016, nunca se prendeu à críticas duvidosas ou as idiotices de alguns “fãs”, que bradam besteira na internet pedindo a volta de um artista que talvez nem exista mais e que ganhou destaque exatamente por isso, fazer arte sem se colocar dentro de uma caixinha, permitindo se arriscar esteticamente desde que tornou-se conhecido. Dizer que Froid exauriu alguma fórmula ao longo da carreira é no mínimo desonesto. O artista é, sem dúvidas, um dos artistas do mainstream do rap que mais se reinventou e que, de tanto se “arriscar”, seus trabalhos fechados em álbum soaram um pouco inconsistentes. Talvez se o Pior Disco do Ano tivesse sido produzido inteiramente por ele ou não tivesse algumas canções antigas remodeladas e feats que não casaram muito bem, esse seria seu melhor trabalho. Se faltou isso no seu álbum de estreia solo, foi algo que o artista conseguiu explorar em Oxigênio, mostrando que consegue rimar bem em qualquer beat, que sabe escolher instrumentais, produzir com autenticidade, manter um nível alto mesmo com participações de artistas incríveis e nas suas melhores formas, rimando como poucos, trocando de flow como quem troca de meia e escrevendo de maneira irreverente em TODAS as faixas. Oxigênio é o melhor trabalho solo de Froid, o álbum mantém a consistência e faz da variedade de temas algo positivo, quebrando a monotonia e aproximando o ouvinte, que tende a querer escutá-lo várias e várias vezes sem pular nenhuma faixa.
—Lucas Wildemberg