Desde Food & Liquor e The Cool Lupe Fiasco não tem conseguido agradar totalmente seus fãs. Após dois álbuns já considerados como clássicos do rap, Lupe também lançou dois álbuns: Lasers (2011) e Food & Liquor II: The Great American Rap Album Pt. 1 (2012), onde o rapper passou a imagem de estar caindo de produção. Fiasco assumiu que realmente não estava satisfeito com o resultado final do Lasers e jogou toda a culpa na sua gravadora, a Atlantic. Lupe deixou claro que ela atrapalhava o lançamento de seus projetos pelo fato deles terem pouco apelo comercial e que ela também tentava controlar sua criatividade. Apesar desses empecilhos o rapper não se abalou e lançou o álbum Food & Liquor II - já citado anteriormente - que acabou sendo mais bem recebido que seu antecessor.
Os problemas com a gravadora já vinham sendo publicados em sua conta do Twitter, onde o MC se demonstrou insatisfeito várias vezes, inclusive com a data de lançamento. Como retaliação ele ameaçou lançar uma mixtape chamada Lost In The Atlantic, uma clara provocação a gravadora. Ele acabou não lançando, pois os problemas foram resolvidos com ajuda dos hacktivistas da Anonymous que ameaçaram publicar arquivos da empresa caso o álbum do Lupe, um artista inspirador segundo a organização, não fosse lançado.
Em entrevista na semana do lançamento de seu álbum, Lupe contou ao Sway sobre a influência da gravadora no projeto. De início, a gravadora impôs que ele gravasse sete músicas, que segundo o rapper eram soft (“suaves”) se comparada ao estilo dele. Dentre elas, foram lançadas Old School Love e Next To It, e como o rapper esperava, elas não agradaram tanto os fãs e nem conseguiram sucesso nas principais paradas - as outras tiveram problemas com sample, impossibilitando o uso no álbum. Antes que a gravadora desse controle criativo do projeto para o Lupe, ele se viu obrigado a gravar algumas faixas pesadas para compensar as outras que ele considerava “suave”, caso elas viessem a fazer parte da versão final do álbum - nessa brincadeira tivemos a gravação da Choppers, um trap de nove minutos e cheio de participações quentes, cada uma com versos de 32 linhas. Depois dos singles impostos pela gravadora falharem, ele finalmente pôde fazer o álbum da maneira que ele desejava. Finalmente o MC pode nos agraciar com seu próprio Mural.Análises:Lupe é complexo, definitivamente não é o seu MC tradicional. Desde The Cool ele vem sofrendo, segundo ele de imposições de sua gravadora, mas parece que esse álbum que finaliza seu contrato é o que ele teve mais liberdade criativa. As produções são arrojadas e cheias de instrumentos pouco comuns no rap, principalmente se tratando de um projeto de estúdio e não acústico; as letras são densas e cheias de figuras de linguagem/referências, o que reflete também na duração das letras; muitas participações; e possui uma temática bastante artística - veja a capa, por exemplo. Sem dúvida um projeto para ser lembrado e um excelente ponta pé inicial para o ano e para essa nova fase do Lupe.
Nota: 9,0 - krayFiasco é um cara que ainda não tem toda a minha atenção, mas aos poucos vem a conquistando. Obviamente ele já está inserido no cenário internacional e é muito aceito e respeitado, que é o que interessa. E com esse trabalho excelente este sentimento só aumentou. Uma pegada muito orquestrada, cheio de pianos, violinos e refrões “sentimentais”, na medida do possível, melodias divinas e a qualidade nas rimas que todo mundo já está cansado de ver vindo do Wasalu.
Nota: 8.8 - ArielBPaivaTetsuo & Youth é um álbum delicadamente arranjado e construído. Ao ouvir esse disco com toda minha atenção e dedicação eu consegui compreender 30% do que esse álbum é capaz de passar para os seus ouvintes. O conteúdo lírico do Lupe sempre é algo impressionante e inovador, por isso ele é tido como um dos grandes visionários do rap no momento. O rapper aborda tópicos como a sua insatisfação com a Atlantic, preocupação das mães com seus filhos que vivem em ambientes complicados, alta taxa violência nas periferias e faz críticas aos atuais sistemas prisionais e de posse de armas. Com um ótimo flow e muitas rimas silábicas, Lu entrega metáforas e referências que vão desde ao nosso Carnaval ao meu filme favorito (Scarface) em cima de instrumentais divinas. Todas as participações e refrões presentes nesse álbum foram escolhidas a dedo, com destaque a Nikki Jean que teve um papel essencial nesse projeto.
Nota: 9.0 - VILLE011Veredito Final:Após o drama com a gravadora, Lupe finalmente se reencontrou e nesse novo projeto parece que conseguiu agradar seus fãs e os fãs de rap. Arrojado, o MC não teve medo de arriscar e lançar faixas longas com quase 10 minutos e deixou o lado artístico transbordar. Também foi possível ver as boas e velhas rimas ferozes, cheias de figuras de linguagem e muito bem estruturadas. O álbum conta ainda com ótimas participações e produções bastante aquém dos últimos álbuns, recheada de sons de orquestra. Enfim, um projeto com status para ser clássico na discografia do Lupe e de muitos fãs de rap, uma ótima maneira de começar 2015.Média das Notas: 8,9