[Verso 1]
Ta vendo a maldade do branco
Ta vendo o chicote que estrala
Ta vendo o batuque do banto
E o canto que vem da senzala
Um povo que já sofreu tanto
E ainda assim não se abala
Portanto eu já te garanto amigo
Não tem opressão que lhe cala
A reza e a fé no seu santo
O jeito que a gente fala
De fora até causa espanto
No entanto seguimos que nem mestre-sala
Eu caio, mas eu me levanto
A arte é a prova de bala
É parte do nosso encanto
Não tem um país que se iguala
[Refrão]
Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega
Mas tudo o que é do Brasil não se pode o Brasil negar
[Verso 2]
E o samba que é da Bahia não veio de lá, de lá
E antes de ter Português já tinha Guarani, aqui
E esse Brasil que a gente hoje chama de lar, de lar
Nem é assim que se chama
Antes era Pindorama Tupi
Nem é assim que se chama
Antes era Pindorama Tupi
[Verso 3]
Esse batuque que a gente rebola vem lá de Angola de Congo, Cabinda e Cambondo
Preto quilombola bole feito mola se embala na ginga do jongo
Não tem ginga dura, swinga a cintura, é nosso coringa é mandinga pura
Seu santo é forte que nem pinga pura e cura o que nem a seringa cura
Não posso negar eu sou brasileiro eu sou o tambor do terreiro
Mas também sou o grito dor que ecoou pelo cativeiro
Não posso negar meu roteiro, será que um dia a gente vai pagar
Por todo pecado do nosso passado que não se pode apagar, jamais!
E desde a cultivo de cana que o preto ainda vai em cana
Mas a mão tirana e toda desgraça vai virar fumaça na raça da raça africana
Não se pode negar o passado hostil, mas podemos mudar o presente
Vamo Brasil, quebra o quadril, mas quebra de vez a corrente
[Refrão]
Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega
Mas tudo que é do Brasil não se pode o Brasil negar
[Verso 4]
É preciso sabe de onde a gente veio
Pra saber pra onde é que vai, pra saber como é que tá
Mãe lusitana e africana meio a meio, mas também bebi no seio
Da madre Tupinambá
Filho bastardo sem direito a orfanato
Vi o capitão do mato matar mulato na marra
Estupefato com tanto assassinato
A favela é só o retrato de um mal que não desgarra
E o candidato no mandato faz contrato
Praticando estelionato numa audácia tão bizarra
Mais uma vez é o povo que paga o pato
Lava mão e lava jato e o País vira uma farra
Um triste fato, quem dera fosse boato
Porém esse é o relato que a realidade a narra
E o nossa gente aprende com o desacato
Da um jeito faz um gato e arranja uma gambiarra
Ou eu combato esse mal de imediato
Ou também como no prato dessa mesma algazarra
Pra ser sensato eu sou brasileiro nato
E não vou deixar barato essa mão que nos amarra