Fabio Brazza
Anel de Giges
[Verso 1]
O que você faria se ninguém pudesse te ver?
Se você tivesse o poder de desaparecer?
Pra fazer o que quisesse fazer
Será se ainda assim seria quem tanto parece ser
Pensa bem antes de responder
Se ninguém pudesse te ver
O que será que iria acontecer?
Afinal, você faz o bem por que é bom ou por que a moral diz que é o certo a se fazer?
E se eu te dissesse que existe um anel que você coloca e desaparece
E se você pudesse tornar o seu sonho possível
E quando quisesse, bastava ficar invisível
Se pudesse roubar sem deixar vestígios
Faria para o próprio regozijo ou faria o bem só pra ganhar prestígio? Hein?
Essa pergunta me aflige
O que você faria se tivesse o Anel de Giges?

[Ponte]
O que você faria se tivesse o Anel de Giges?

[Verso 2]
Ajudaria algum parente ou quem precisa realmente?
Soltaria um impostor? Condenaria um inocente?
Ou agiria naturalmente? Como sempre agiu
E fingiria na verdade que esse anel nunca existiu
Viraria um justiceiro? Mataria delinquentes?
E doaria seus órgãos a pacientes doentes
Usaria ele somente pra fazer coisa boa
Ou daria de presente para outra pessoa?
Tiraria de quem tem pra ajudar quem não tem
Ficar assim a vida inteira ou martirizaria alguém?
Ou será que Maquiavel tava certo ao dizer:
"Quer destruir um homem, então lhe dê poder"
Será que se não houvessem leis, nem repressão, ainda assim a justiça iria prevalecer?
Acho que não
Se eu tiver errado me corrige
O que você faria se tivesse o Anel de Giges?

[Ponte]
O que você faria?

[Verso 3]
E você acha que o Anel de Giges é só uma lenda
Para pra prestar atenção
O anel da modernidade é o celular na mão
Com o véu da vaidade, você é fiel à verdade ou não?
O que você mostra, o que você esconde, então, me responde, irmão
Seus defeitos, onde estão?
Quem é você na sua timeline?
Quem é você quando não está online?
O homem é o dono do que cala, escravo do que fala, já dizia Freud
Cuidado pra que esse anel não te endoide
O Narciso que via no largo do espelho
Hoje se vê na tela do seu aparelho
IPhone, Android
A mitologia faz analogia com a natureza humana
E a moral ainda serve como uma espécie de prótese
O dilema é o mesmo de Aristóteles a Sócrates
Note-se que isso é mais que uma hipótese
E o negócio é aparecer pra parecer
Que você é quem parece ser
Mas quem é você? Quando ninguém tá do lado, de celular desligado?
O que você faz com esse poder que lhe foi dado?
Sorria, você não está sendo filmado (não)