Fabio Brazza
O Gênio do Gênio
O gênio de todo gênio é incompreensível
E é por isso que o gênio é capaz do inconcebível
Parece que o artista busca a morte
Como se fosse ela sua única redenção cabível
Parece que cada emoção afeta mais o poeta,
porque o poeta é mais sensível
Mas é essa sensibilidade que lhe concede intensidade
E é essa contradição que faz sua genialidade possível
Se o artista pensasse como um matemático, seria mais prático
Porém o pragmático é o revés do imprevisível
E a poesia nasce da indisciplina, do inesperado, de um raro lapso de inspiração
Nem tudo se reduz a dados, nem tudo se resume em números, nem tudo requer uma explicação!
A arte não precisa ter sentido, precisa ser sentida
A poesia é como um drible no meio-campo a esmo
Um lance que não vira estatística, porque basta por si mesmo
Um momento que não se repete
Onde nem o próprio artista entende exatamente o que fez
Por vezes me faço essa enquete, e agora pergunto a vocês:
E se Ronaldinho Gaúcho tivesse a dedicação e a frieza de CR7?
Seria mais jogador, é verdade, mas menos artista talvez?
Creio que o artista precisa dessa rebeldia que lhe move
Dessa raiva que lhe rói
Da tristeza que lhe revela
Da dor que lhe transtorna
Do riso que lhe redime
De uma obsessão extrema
De uma emoção que lhe defina
E essa mesma intensidade, que um dia lhe trouxe o ápice da criatividade
Será também a causa suprema de sua ruína
Como a madeira, que precisa ser consumida para se tornar fogueira!
Poetas são homens bombas carregados de poemas
Que se auto destroem por algo maior, nem que esse algo seja a arte apenas!
Amy Winehouse, Jimmi Hendrix, Michael Jackson, Kurt Cobain
Elvis, Whitney, Raul Seixas e Chorão também
Por vezes pensamos: se não fosse a vida do artista tão trágica, seria sua obra tão mágica?
Se Noel Rosa não fosse tão boêmio seria Noel tão gênio?
E se Tupac não fosse tão intenso e agressivo, talvez ainda estivesse vivo
Porém seria o mesmo Tupac?
O artista parece buscar o oceano mais revolto, ainda que esse mar lhe afogue
Escolher fazer arte pode ser um tiro no pé
Mas para parar de fazê-la, só com um tiro no peito, como Van Gogh!
O artista nasce com um dom único
Mas seu maior feito é seu maior fardo
Pois a arte é seu banquete farto, e seu veneno amargo
Como um par de asas pesadas que lhe possibilita alçar vôos sublimes
Mas restringe seus passos em terras firmes,
É uma coroa espessa na cabeça, que lhe faz rei e lhe faz réu,
Seu mal, seu mel, seu hell, seu céu, que o liberta e o amarra
É como o canto derradeiro da cigarra
É o voo breve da libélula
É o dom de sentir a dor alheia
Na arte de transformar areia em pérola
Se entregar à arte tem um preço
Mas é inútil lutar contra a sua natureza
Pois o artista sem sua arte é como uma fera selvagem presa
Viveria mais, talvez, mas seria menos, com certeza!
Morrer é inevitável, faz parte
E já que vamos todos morrer, que eu morra de arte!
Por isso escrevo com meu próprio sangue
Por isso minha rima cheira éter
E a poesia é quem me faz respirar... como se fosse meu cateter
Peço que não chorem por mim, minha morte será plena
Terá valido a pena
Não me tornarei mais um número no sistema
Pois tendo derramado no papel toda vida que continha
Ao chegar ao fim da linha, serei eu também poema!