A ponte da cidade grande aponta
Aponta um problema que a gente tenta esconder
A ponte da cidade grande é apenas a ponta
Do que a gente não vê, do que a gente não vê
Em cima da ponte, um homem querendo pular
Embaixo da ponte, um outro querendo comer
No meio da ponte, um carro tentando passar
E dentro do carro, um homem tentando viver
A ponte da cidade grande aponta
Aponta um problema que a gente tenta esconder
A ponte da cidade grande é apenas a ponta
Do que a gente não vê, do que a gente não vê
De cima da ponte
Eu vejo a imensidão da cidade
Eu vejo um guindaste
Eu vejo o contraste
Entre arranha-céu e favela
Na fotografia que ela revela
E o que o governo releva
E quanto dinheiro se leva
Para construir uma obra daquela
Da ponte pra lá e de ponte pra cá
Existem dois mundos que a ponte separa
A ponte é a cara da desigualdade
Que causa fascínio e repulsa
A ponte que pulsa no pulsar da cidade
E que denuncia a calamidade
E acolhe aquilo que a sociedade expulsa
De baixo da ponte eu vejo dejetos
Da vida humana, da vida urbana
Eu vejo seus restos, nesse rio tem sujeira de monte
De cima da ponte eu vejo o projeto de um arquiteto
De fronte eu vejo o horizonte
E as nuvens cinzas que cobrem o sol
Antes que ele desponte
A ponte é a tela que pinta a paisagem social
Com veracidade
E aquilo que a ponte revela
É o cartão postal mais fiel da cidade
A ponte da cidade grande aponta
Aponta um problema que a gente tenta esconder
A ponte da cidade grande é apenas a ponta
Do que a gente não vê, do que a gente não vê